Resumo do Organon de Aristóteles

A esse noüs constitutivo da filosofia primeira Aristóteles alude no livro VI da Metafísica, quando, após ter definido a filosofia primeira como ciência do ser enquanto ser, afirma que ela deve procurar seus princípios, isto é, o “que é”, ou seja, a essência, e o “se é”, ou seja, a existência

não é possível dar demonstração dos princípios, porque demonstrar significa mostrar a necessidade de uma conclusão a partir de alguns princípios, e se também estes fossem demonstráveis então já não seriam princípios, mas em seguida exigiriam outros princípios a partir dos quais pudessem ser demonstrados, produzindo, desse modo, um processo ao infinito que jamais levaria aos princípios autênticos e, por isso, destruiria toda demonstração possível. Portanto, deve-se admitir que, se a ciência existe, isto é, se existem as demonstrações, deve haver um saber dos princípios, que não é de tipo demonstrativo mas — como Aristóteles diz explicitamente — uma “ciência an-apodíctica”, mais propriamente “princípio da ciência” e que tem por objeto os princípios indemonstráveis, em particular as definições (I 3, 72 b 18-25).
Alguns acreditavam, já no tempo de Aristóteles, que também fosse possível demonstrar os princípios não mediante um regresso ao infinito em busca de outros princípios, mas por meio de uma espécie de demonstração circular, isto é, conduzida a partir das conclusões às quais chega a demonstração. Mas 

 Aristóteles recusa tal possibilidade, que claramente daria lugar a um círculo vicioso, recordando que os princípios da demonstração devem ser anteriores às conclusões e que, por isso, não há sentido em procurar demonstrar os princípios partindo-se delas. Nem vale aduzir, a esse propósito, um tipo particular de demonstração, do qual Aristóteles também admite a possibilidade, isto é, aquela que se desenvolve a partir dos princípios mais conhecidos não por natureza, mas por nós, ou seja, obtidos pelo conhecimento sensível. A propósito dela, Aristóteles observa, com efeito, que não é demonstração em sentido próprio, isto é, demonstração do “porquê”, da causa, mas demonstração somente do “quê”, isto é, de um fato (I 3, 72 a 25-36)


O Organon é o conjunto das obras consideradas “lógicas” de Aristóteles e é composto de 6 títulos: (I) Categorias, (II) Da Interpretação, (III) Primeiros Analíticos, (IV) Segundos Analíticos, (V) Tópicos, (VI) Refutações Sofísticas. É bom que os livros sejam estudados nessa sequência, porque a leitura dos últimos deve levar em conta os resultados alcançados pelos primeiros.





1. CATEGORIAS





Neste livro, Aristóteles faz uma análise da linguagem e extrai todas as significações possíveis que pertencem a cada uma das palavras ou expressões, quando não combinadas. Essas significações recebem seu nome a partir da noção de “categoria” (do grego cathegorein que significa acusar). São elas: o que (substância); o quanto ou o quão grande (quantidade); o qual ou o que tipo de coisa (qualidade); o com o que se relaciona (a relação); o onde (lugar); o quando (o tempo); o qual o fazer (a ação); o qual o sofrer (a paixão); o qual a postura (a posição); o sob que circunstâncias (o ter, a posse, estado ou condição).

Elas são em número de 10, são chamadas de categorias porque constituem aquilo que é acusado (categorizado) nos indivíduos e permitem a formação de juízos sobre eles. Os juízos são formados quando ocorre uma combinação entre sujeito e predicado nas frases afirmativas ou negativas.

Exemplo de substância: homem, cavalo. Juízos formados sob a categoria de substância: Sócrates é homem; Bucéfalo é um cavalo.

Exemplo de qualidade: branco, gramatical. Juízos formados sob a categoria de qualidade: Sócrates é branco; o livro é sobre gramática. Exemplo de quantidade: dois côvados de comprimento, cinco centímetros de espessura. Juízos formados sob a categoria de quantidade: os degraus possuem 10 centímetros de altura.

Exemplo de relação: dobro, metade, maior, menor. Juízos formados sob a categoria de relação: Sócrates é mais alto do que Platão. Exemplo de lugar: no mercado, no Liceu. Juízos formados sob a categoria do onde: Aristóteles está no Liceu. Exemplo de tempo: ontem, ano passado. Juízos formados sob a categoria do quando: Sócrates ensinou ontem.

Exemplo de ação: Sócrates ama. De paixão: Sócrates é amado. Exemplo de posição: deitado, sentado. De estado: calçado, armado, Fulano tem um sapato, uma arma, etc.

Juízo é uma frase predicativa ou uma proposição. Frase predicativa, literalmente, predica o sujeito, diz previamente que adjetivo, atributo, ou característica, está presente nele. Proposição, literalmente, é uma tomada de posição em favor de. Ao apontar a presença do predicado, a proposição indica a existência do mesmo no sujeito, tal como, num tribunal, o advogado defende o acusado dizendo “é inocente” e o promotor acusa o réu dizendo “é culpado”.

Em suma, trata-se de uma frase declarativa, que faz um julgamento, uma declaração a respeito de alguma coisa a partir de uma característica presente nela. Por isso, acusar (categorizar) é apontar a presença da característica, é atribuir a característica à coisa. Toda frase afirmativa e negativa é uma asserção declarativa, essas frases operam sempre uma conexão ou desconexão entre sujeito e predicado. Exemplo de frases declarativas: o homem é animal; o animal é mortal; etc. Na conexão que fazemos através da cópula “é”, um predicado é atribuído a um sujeito.

Aristóteles reserva para o sujeito a denominação de substância. Aqui, a análise da linguagem está em estreita relação com a ontologia. A saber, a ontologia de Aristóteles é baseada na noção de que o ser se diz de muitas maneiras, de que ele possui múltiplos sentidos, mas que há um significado primário que unifica a todos, ou seja, que todos os sentidos do ser se dão em referência a um único princípio. Para Aristóteles, o centro unificador dos significados do ser se denomina substância. O ser, quando é dito da substância, é dito em uma acepção individual, primária e numericamente una. Assim, para exprimir essa multiplicidade de significados, os enunciados da língua podem ser efetuados sob as 10 designações diferentes chamadas de categorias.

Todas as coisas estão na substância como subjacentes, ou são afirmadas a respeito dela enquanto subjacentes. Por conseguinte, se não houver uma substância primeira, nenhuma outra coisa pode existir. Mas, para Aristóteles, como a substância é a acepção mais fundamental, central e primeira, ela nunca se predica de algo subjacente, nem pode ser descrita como estando nele. No entanto, existem substâncias segundas, que são as espécies e os gêneros a que pertencem as espécies. O homem, por exemplo, faz parte da espécie homem, e o gênero a que ele pertence é animal. Com relação às substâncias segundas, Aristóteles diz que a espécie é mais substância do que o gênero. Com relação à substância primeira, o indivíduo concreto, o substrato (hypokheimenon) é mais substância do que a espécie.

Qual a razão disso? Aristóteles apresenta dois motivos:

1 – a espécie está mais próxima da substância do que o gênero, o que podemos concluir ao responder a pergunta: “o que é isto?”, e notar, nessa ocasião, que uma resposta mais apropriada e explicativa é a que indica a espécie ao invés do gênero, quando mencionamos “homem” e não “animal”, ou “árvore” e não “planta”. Com efeito, o caráter “homem” está mais próximo da substância do que o gênero “animal”, que é mais longínquo e geral, portanto, menos explicativo.

2 – Nós podemos predicar os gêneros das espécies, por exemplo: todo homem é animal. No entanto, o mesmo não é válido para as espécies em relação aos gêneros, isto é, não podemos predicar as primeiras dos segundos, por exemplo: todo animal é homem. O que mostra, aliás, que gênero e espécie não se contrapredicam. Com isso, será possível concluir que a espécie é mais substância do que o gênero.





2. DA INTERPRETAÇÃO





No livro Da Interpretação, Aristóteles trata primeiro do Lógos, que significa “linguagem”, e dos componentes da linguagem (linguagem, nome, verbo, discurso, proposição, etc.).

Nome é um som que possui significado. O nome é estabelecido por convenção, por exemplo: azul é caeruleos em latim, blue em inglês, blée em françês e blau em alemão, mas o significado “azul” é idêntico em todos esses nomes, o significado não é por convenção. Quem ouve o nome na sua própria língua entende o que ele significa, independentemente do símbolo que o expressa.

Verbo é uma palavra que introduz numa proposição a sua referência temporal. Por exemplo, “o professor ensina”, isso quer dizer que o professor está ensinando no tempo.

Discurso, o outro componente do Lógos, é a proposição, o enunciado. A proposição é uma frase simples, mas não qualquer tipo de frase, e sim uma frase na forma declarativa, na forma da enunciação. A frase declarativa é aquela que é composta por três termos: o sujeito, o predicado, e o verbo “ser” que opera a conexão entre ambos. Toda frase declarativa, portanto, é uma conexão efetuada na seguinte ordem: o sujeito é predicado (S é P).

Tenha-se em conta os resultados alcançados nas Categorias, sobre os diferentes tipos de juízo distribuídos pelas 10 categorias.

Exemplos concretos disso: o céu é azul; o homem é feliz; Sócrates é mortal; a Terra é redonda; etc. A frase declarativa é uma afirmação na qual um predicado, um adjetivo, é atribuído a um sujeito. A função que ela cumpre é precisamente a de declarar que um determinado atributo, ou propriedade, ou característica, pertencem a um indivíduo. Mas existem também enunciados que, ao invés de afirmarem algo, negam que algo pertença a algo. Aí a forma S é P é mudada para a forma S não é P. Por exemplo: o sol não é menor do que os planetas. Nessa proposição, é dito que o predicado “menor do que os planetas” não pertence ao sol, estando separado dele. Mesmo assim, esse enunciado está operando uma conexão, na medida em que ele deixa implícita a informação de que o sol é maior ou do mesmo tamanho que os planetas.

Todo o discurso científico pode ser reduzido a essa forma básica: S é P. Vejamos: “as cargas e correntes elétricas agem como fontes dos campos elétrico e magnético” (teoria de Maxwell). Essa frase pode ser reformulada para: as cargas e correntes elétricas são agentes de origem dos campos elétrico e magnético. As “cargas e correntes elétricas” desempenham o papel de sujeito na frase, ao passo que “agente de origem dos campos elétrico e magnético” é o predicado que pertence a ele.

O mesmo acontece em: I - Corpos dotados de grande volume de massa deformam o espaço-tempo, gerando campos gravitacionais muito fortes (teoria da curvatura do espaço de Einstein); II - a seleção natural determina que características favoráveis que são hereditárias tornem-se mais comuns em gerações sucessivas de uma população de organismos que se reproduzem, e que características desfavoráveis que são hereditárias tornem-se menos comuns (teoria da seleção natural de Darwin); III - 2 mais 2 é igual a 4.

No Da Interpretação, Aristóteles aborda as frases declarativas sob a designação de “apofânticas”. Apofântico quer dizer suscetível de verdade ou falsidade. Somente as frases apofânticas, que são assertivas, podem ser ditas verdadeiras ou falsas, uma vez que elas são compostas de sujeito e predicado conectados pela cópula “é”, e nenhum item, ao ser enunciado sem conexão: homem, cavalo, casa, pode ser dito verdadeiro ou falso.

Com efeito, a frase declarativa possui a peculiaridade de ser a única, em todo o discurso humano, que é suscetível de ser caracterizada como verdadeira ou falsa. Outros usos da linguagem, como o desiderativo: “quero estudar”; o imperativo: “feche a porta”, “traga-me um copo d’água”; ou o discurso hostil: “vá para o inferno!” não são suscetíveis de verdade ou falsidade. Por que motivo?

Isso acontece devido ao fato de que a proposição, ao fazer uma declaração a respeito de alguma coisa, assume a pretensão de que esta ou aquela propriedade está contida na coisa. Se estiver, de fato, a proposição será verdadeira; se não estiver, será falsa. A proposição “a Terra é quadrada” assume a pretensão de que a realidade existe desta forma, que esse estado-de-coisas é suscetível de ser verificado no mundo, e a Terra possui realmente a quadradura como um de seus atributos. A verdade ou a falsidade pode então ser atribuída a esta proposição dependendo de sua “correspondência” ou “não-correspondência” com o estado-de-coisas verificado.

A linguagem usada pela ciência é justamente a declaração, na medida em que a tarefa principal dela é conhecer e determinar a forma como a realidade está estruturada. Para isso, a ciência deve afirmar o que existe no mundo e o que não existe, quais são as propriedades que estão contidas nos sujeitos, quais estados-de-coisa se apresentam efetivamente, determinando suas causas, definições, organização, etc. A frase declarativa é a única capaz de exprimir tudo isso.

As frases declarativas podem ser determinadas segundo a quantidade (universal, particular, singular) e qualidade (afirmativa, negativa, indefinida). Seguem os tipos de frase apofântica classificados por Aristóteles:

Afirmativa: o homem é mortal.

Negativa: o cachorro não é um felino.

Afirmativa universal: todo homem é mortal.

Negativa universal: nenhum homem é imortal.

Afirmativa particular:alguns homens são felizes.

Negativa particular: alguns homens não são felizes.

Afirmativa e negativa singular: Sócrates é sábio. Platão não é um sofista. Mas as proposições singulares não fazem parte da ciência.

Frases indefinidas: Aristides é não-X. O atributo aqui é indefinido porque Aristides é qualquer coisa exceto X. Sócrates não é não-Y. O atributo dado a Sócrates pode ser qualquer outra coisa no mundo menos não-Y.

Essas frases admitem ser colocadas em relação de oposição.

A afirmativa universal é contrária à negação universal.

A afirmativa particular é contrária à negação particular.

Na relação entre universal e particular, porém, a oposição é de contraditoriedade, e não de contrariedade. Quer dizer que universais e particulares, quando se opõem, são contraditórias entre si. Assim, dizemos que a negação particular contradiz a afirmação universal, por exemplo: algum felino não é carnívoro contradiz a afirmação de que todo felino é carnívoro. Do mesmo modo, dizemos que a afirmativa particular contradiz a negação universal, por exemplo: alguma dor é boa contradiz a negação universal de que toda dor é má.

Os medievais, a partir de Aristóteles, organizaram essas relações de oposição no chamado Quadrado das Oposições:









As letras AEIO são retiradas dos verbos latinos AFFIRMO / NEGO conjugados na primeira pessoa singular do indicativo. Affirmo (vogais A e I) para as duas afirmações. Nego (vogais E e O) para as duas negações.

Uma importante diferença entre o contrário e o contraditório é que duas contrárias podem ser simultaneamente falsas, por exemplo: todo homem é feliz e nenhum homem é feliz são igualmente falsas. Duas contraditórias, ao contrário, não podem ser simultaneamente verdadeiras ou falsas. Se uma é verdadeira, a outra é necessariamente falsa, e vice-versa. Por exemplo, se for verdadeiro que todo homem vive na Terra, então é necessariamente falso que algum homem não vive na Terra. Convencionou-se chamar esse princípio entre os lógicos de princípio da bivalência.

Aristóteles trata por último das modalidades, e funda as bases da lógica modal. Modalidades, na lógica, designam categorias como necessidade, impossibilidade, contingência, probabilidade.

Mas convém dizer que essas modalidades, em última análise, admitem ser todas reduzidas à categoria da possibilidade e concebidas como diferentes aspectos daquilo que é possível. Vejamos:

Designamos com o termo “necessário” aquilo que só pode ser e não pode não ser.

Designamos com o termo “impossível” aquilo que só pode não ser e não pode ser.

Designamos com o termo “contingente” aquilo que pode tanto ser quanto não ser.

Designamos com o termo “provável” aquilo que pode mais ser do que não ser.

Notamos acima que todos os modos são definidos a partir do verbo “pode”, que remete a poder, que remete a possível. O que deixa claro que necessário, impossível, contingente, provável, são todos eles aspectos ou variantes da possibilidade. Vejamos agora os exemplos:

Que o corpo ocupe um espaço é algo necessário.

Que o corpo, inscrito no espaço, não seja tridimensional é algo impossível.

Que o corpo seja ou não multicolorido é algo contingente, que chamamos de acidental.

Que com o atrito do ar corpos de peso desigual caiam mais em velocidades desiguais do que iguais é algo provável.

Contudo, será importante assinalar ainda que existe, no conhecimento, uma distinção que deve ser estabelecida referente às modalidades de ser (de re) e às modalidades de conhecer (de dicto). Falamos até agora somente das modalidades de re, mas no conhecimento podem entrar aspectos tanto cognitivos quanto ontológicos.

Quando nos limitamos a falar do conhecer, aí designaremos com o termo “necessário” aquilo que só pode ser conhecido como tal e nunca de outra maneira. A menor distância entre dois pontos, por exemplo, só pode ser conhecida como uma reta e nunca como uma curva.

Aí designaremos com o termo “impossível” aquilo que nunca pode ser conhecido como tal. O círculo, por exemplo, não pode jamais ser conhecido como quadrado.

Aí designaremos com o termo “contingente” aquilo que pode ser conhecido tanto como X quanto como não-X. Sócrates, por exemplo, pode ser conhecido tanto como músico e branco quanto não-músico e não-branco.

Aí designaremos com o termo “provável” aquilo que pode mais ser conhecido como tal do que de outra maneira. A dor, por exemplo, é mais conhecida ou padecida como má do que como boa.

Quando, por sua vez, estamos a falar do ser, da modalidade de re, aí designaremos de necessário aquilo que só pode ser como tal e nunca como outra coisa. A esfera, por exemplo, só pode ser circular e jamais retangular ou quadrada.

Aí designaremos com o termo “contingente” aquilo que pode ser tanto X quanto não-X. Sócrates, por exemplo, pode ser tanto sábio quanto não-sábio.

Aí designaremos com o termo “provável” aquilo que tem mais chances de ser X do que não-X. A dor, por exemplo, tem mais chances de ser má do que boa.

O futuro é o reino das possibilidades abertas. Amanhã pode acontecer ou pode não acontecer uma batalha naval em Salamina. A possibilidade aberta entre o acontecer e o não acontecer uma batalha naval em Salamina é contingente, por isso, Aristóteles introduz a expressão “futuros contingentes” para descrevê-la. Com efeito, tanto a chance de haver quanto a de não haver essa batalha é igualmente admitida como possível. Contudo, entre as duas contingências repousa uma necessidade, pois é necessário que entre as duas alternativas, de haver ou de não haver a guerra, uma ocorra, de fato, com exclusão da outra. É impossível que uma delas não aconteça.

Leibniz diria que tanto uma alternativa quanto a outra são possíveis, mas que elas não são compossíveis, quer dizer, não podem ocorrer ao mesmo tempo. Se fossem compossíveis, isso infringiria a regra da não-contradição, que diz que um mesmo predicado não pode pertencer e não pertencer a um único sujeito ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. É claro que uma batalha pode ser quente, quando os dois inimigos se agridem de fato, e pode ser fria, quando os dois inimigos permanecem numa atitude meramente ofensiva, sem se atacar de fato. Neste último caso, é lícito dizer que há batalha e que não há batalha sem que isso incida em contradição: há batalha, porque há atitude agressiva; mas não há batalha, porque os dois inimigos ainda não chegaram às vias de fato. Não há contradição porque reside aí uma diferença no aspecto, no sentido em que se fala de guerra.

A oposição entre as modalidades, por sua vez, é a seguinte: o necessário é o contrário do impossível, e é o contraditório do contingente. O contraditório do impossível, por sua vez, é o possível. Assim, o contrário da proposição “é necessário que isto aconteça” é a proposição “é impossível que isto aconteça”. O contraditório da proposição “é necessário que isto aconteça” é a proposição “é contingente que isto aconteça”.





3. PRIMEIROS ANALÍTICOS





Nos Primeiros Analíticos, Aristóteles trata da demonstração, raciocínio ou argumento, chamados de silogismo (sin + logos, que significa razões em conjunto), e das formas válidas de silogismo, em oposição às formas inválidas. Ele mostra todas as combinações de silogismo possíveis e separa aqueles que são válidos daqueles que não são válidos. Válido é o que parte de premissas e chega a uma conclusão necessária. Ao fazer isso, ele se ocupa da arte da demonstração e de tudo o que pertence à ciência demonstrativa.

Convém assinalar que a validade de um raciocínio é diferente de sua verdade. Para ser válido, o silogismo deve atender ao critério da conexão lógica necessária das proposições. Por exemplo: Todo felino é carnívoro; todo leão é felino; logo, todo leão é carnívoro. Para ser verdadeiro, o raciocínio deve atender, além do critério da validade, ao critério da verdade, da correspondência entre o que é dito e os estados de coisa observados na realidade. Por exemplo, o estado de coisas “leão é carnívoro” deve ser verificado na realidade. Ou seja, os predicados “leão” e “carnívoro” devem se encontrar de fato no mesmo sujeito real de que fala o raciocínio. Ou, no caso da sentença negativa “a lua não tem luz própria”, os predicados “lua” e “ter luz própria” devem de fato estar separados. Pode acontecer de um raciocínio ser válido sem ser verdadeiro, por exemplo: todo quadrúpede é um asno; toda baleia é um quadrúpede; logo, toda baleia é um asno. Mas não pode acontecer, ou seja, é impossível, que um silogismo seja verdadeiro sem ser válido.

Para que um silogismo seja válido, sua estrutura deve respeitar algumas regras. Por exemplo:


Todo silogismo deve conter somente três termos: maior, médio e menor.


Os termos da conclusão não podem ter extensão maior que os termos das premissas;


O termo médio não pode entrar na conclusão;


O termo médio deve ser universal ao menos uma vez;


De duas premissas negativas, nada se conclui;


De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa;


A conclusão segue sempre a premissa mais fraca;


De duas premissas particulares, nada se conclui.

Nos Primeiros Analíticos, Aristóteles trata somente da validade, por isso, ele usa variáveis A, B, C, X, Y, para fazer as vezes de sujeito e predicado ou representar estados de coisa nos silogismos. Aristóteles testa todas as combinações possíveis de silogismo e encontra 64 formas possíveis. Destas, apenas 19 combinações respeitam as regras acima e são válidas, portanto, podem ser empregadas legitimamente num argumento. Os silogismos inválidos são deformidades e devem ser rejeitados e nunca aceitos numa discussão, pois eles não chegam a nenhuma conclusão necessária a partir das premissas. Por causa desse estudo da “forma” dos raciocínios, a lógica desenvolvida nos Analíticos é chamada de “lógica formal”.

Os elementos da demonstração são os seguintes: a premissas, os termos e o silogismo.

Premissa é uma proposição que afirma ou que nega que determinado predicado pertença a algum sujeito. As proposições podem ser determinadas segundo a qualidade, sendo afirmativas ou negativas; e podem ser determinadas segundo a quantidade, sendo universais ou particulares. Uma premissa, portanto, é constituída de um sujeito e de um predicado que é afirmado ou negado dela, de modo universal ou particular. Por exemplo: Todo S é P – afirmação universal; Nenhum S é P – negação universal; Algum S é P – afirmação particular; Algum S não é P – negação particular.

Existem inferências feitas diretamente a partir de uma das proposições do silogismo. É chamado por Aristóteles de conversão: conversão simples (Simpliciter): é a troca de posição dos termos sujeito e predicado. Ocorre apenas nas Universais Negativas e Particulares Afirmativas. Ex.: de “Nenhum A é B” se passa para “Nenhum B é A”. Outro exemplo, de “Algum A é B” para “Alguma B é A”. Conversão por acidente (Per Accidens): é a troca de quantificador, concomitante à troca de posição dos termos sujeito e predicado de uma proposição. Ocorre apenas em proposições Universais Afirmativas. Ex.: de “Todo A é B” se passa para “Algum B é A”.

Os termos, por sua vez, são os elementos que compõem as premissas: o sujeito e os predicados. A relação que se estabelece entre o sujeito e os predicados é determinada pela adição do verbo ser ou pela remoção do não ser.

O silogismo, por sua vez, é definido por Aristóteles como uma locução em que, dadas certas suposições, algo de diferente delas resulta necessariamente como conclusão, por força da própria presença das suposições e sem necessidade de nenhum termo adicional.

As suposições são formuladas em forma de premissa. Nelas, é dito que um atributo pertence ou não pertence a um sujeito. Na premissa afirmativa, é dito que um termo está incluído universalmente ou particularmente em outro, por exemplo: todo prazer é um bem, algum bem é um prazer. Quer dizer, o prazer está completamente incluído no conjunto das coisas boas, mas há mais coisas boas além do prazer, logo, o prazer é só uma parte do bem. Na premissa negativa, é dito que um termo está excluído universalmente ou particularmente de outro, por exemplo: nenhuma dor é um bem, algum homem não é sábio. Quer dizer: a dor está universalmente excluída do conjunto das coisas boas. Alguns homens em particular estão excluídos do grupo dos sábios.

Dadas duas premissas, compostas de três termos, A, B, C, segue-se da articulação lógica entre elas uma terceira proposição, chamada de conclusão. Por exemplo:

Premissa 1: Todo A é B.

Premissa 2: Todo C é A.

Conclusão: Logo, todo C é B.

Suponhamos que A represente homem, B represente mortal, C represente brasileiro. O silogismo seria escrito da seguinte forma: Todo homem é mortal. Todo brasileiro é homem. Logo, todo brasileiro é mortal.

A forma, porém, com que Aristóteles escreve em grego é a seguinte: B pertence a todo A. A pertence a todo C. Logo, B pertence a todo C. A variável B é chamada de termo maior. A variável A é chamada de termo médio. A variável C é chamada de termo maior. O termo médio é definido como aquele que comparece duas vezes nas premissas e nenhuma na conclusão. O termo médio é aquele que estabelece a relação de inclusão ou de exclusão entre os termos maior e menor. Os termos maior e menor são aqueles que são conectados na conclusão através do termo médio. No nosso exemplo, o termo médio é homem, que faz a conexão de inclusão entre brasileiros e mortal.





Há 3 tipos de figura e 14 tipos válidos de silogismo que se distribuem entre elas. A determinação do silogismo em cada figura se dá pela posição do termo médio.





PRIMEIRA FIGURA





Na primeira figura, o termo médio é sujeito na primeira premissa e predicado na segunda. Vejamos o primeiro silogismo da primeira figura:

A pertence a todo B,

B pertence a todo C,

Logo, A pertence a todo C.

Na primeira premissa, o termo médio é o sujeito da proposição e na segunda premissa ele é o predicado. A primeira premissa é uma universal afirmativa, assim como a segunda e a terceira. No quadrado das oposições, a universal afirmativa é designada pela letra A. Temos, então, três As. Como recurso mnemônico, os medievais chamaram o primeiro silogismo da primeira figura de Bárbara, por conta dos três As que representam as três afirmações universais.

Segundo silogismo da primeira figura:

A não pertence a nenhum B,

B pertence a todo C,

Logo, A não pertence a nenhum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal negativa (E), Universal afirmativa (A), Universal negativa (E). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EAE, foi Celarent.

Terceiro silogismo da primeira figura:

A pertence a todo B,

B pertence a algum C,

Logo, A pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal afirmativa (A), Particular afirmativa (I), Particular afirmativa (I). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem AII, foi Darii.

Quarto silogismo da primeira figura:

A não pertence a nenhum B,

B pertence a algum C,

Logo, A não pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal negativa (E), Particular afirmativa (I), Universal negativa (O). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EIO, foi Ferio.

A primeira figura é válida, porque toda conclusão nela é obtida necessariamente, sem precisar de nenhum termo adicional.

EXEMPLOS (Retirados do livro Lógica e Dialética de Mário Ferreira dos Santos):

Bárbara:

A - Todo metal é corpo;

A - Todo chumbo é metal;

A - Logo, todo chumbo é corpo.

Celarent:

E - Nenhum metal é vegetal;

A - Todo chumbo é metal;

E - Logo, nenhum chumbo é vegetal.

Darii:

A - Todo metal é corpo;

I - Algum mineral é metal;

I - Logo, algum mineral é corpo.

Ferio:

E - Nenhum metal é vivente;

I - Algum corpo é metal;

O - Logo, algum corpo não é vivente.





SEGUNDA FIGURA





Na segunda figura, o termo médio é predicado nas duas premissas. Vejamos o primeiro silogismo da segunda figura:

B não pertence a nenhum A,

B pertence a todo C,

Logo, C não pertence a nenhum A.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal negativa (E), Universal afirmativa (A), Universal negativa (E). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EAE, foi Cesare.

Segundo silogismo da primeira figura:

B pertence a todo A,

B não pertence a nenhum C,

Logo, A não pertence a nenhum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal afirmativa (A), Universal negativa (E), Universal negativa (E). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem AEE, foi Camestres.

Terceiro silogismo da segunda figura:

B não pertence a nenhum A,

B pertence a algum C,

Logo, A não pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal negativa (E), Particular afirmativa (I), Particular negativa (I). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EIO, foi Festino.

Quarto silogismo da segunda figura: Baroco

B pertence a todo A,

B não pertence a algum C,

Logo, A não pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal afirmativa (E), Particular negativa (O), Particular negativa (O). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EOO, foi Baroco.

Curiosidade: o nome Baroco, segundo algumas hipóteses, teria vindo do grego baros, que significa “pesado”. O nome dado pelos medievais assinalaria então o caráter irregular desse silogismo em comparação com os silogismos da primeira figura. Há a hipótese também de que o estilo artístico chamado “Barroco”, que surgiu no renascimento no século XVI, teria recebido esse nome conforme a expressão baroco cunhada pelos medievais, já que o estilo se caracteriza pelo rebuscamento, requinte e exagero das formas. De acordo com o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, barroco terá a sua origem no italiano barocco, vocábulo que designaria, entre outras coisas, um silogismo escolástico formalista e absurdo para os Renascentistas.

A segunda figura é válida, porque toda conclusão nela é obtida necessariamente, sem precisar de nenhum termo adicional.

EXEMPLOS (Retirados do livro Lógica e Dialética de Mário Ferreira dos Santos):

Cesare:

E - Nenhum vivente é metal;

A - Todo o chumbo é metal;

E - Logo, nenhum chumbo é vivente.

Camestres:

A - Todo chumbo é metal;

E - Nenhum vegetal é metal;

O - Logo, nenhum chumbo é vegetal.

Festino:

E - Nenhum vegetal é metal;

I - Algum corpo é metal;

O - Logo, algum corpo não é vegetal.

Baroco:

A - Todo chumbo é metal;

O - Algum corpo não é metal;

O - Logo, algum corpo não é chumbo.





TERCEIRA FIGURA





Na terceira figura, o termo médio é sujeito nas duas premissas. Vejamos o primeiro silogismo da terceira figura:

A pertence a todo B,

C pertence a todo B,

Logo, A pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal afirmativa (A), Universal afirmativa (A), Particular afirmativa (I). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem AAI, foi Darapti.

Segundo silogismo da terceira figura:

A não pertence a nenhum B,

C pertence a todo B,

Logo, A não pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal negativa (E), Universal afirmativa (A), Particular negativa (O). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EAO, foi Felapton.

Terceiro silogismo da terceira figura:

A pertence a algum B,

C pertence a todo B,

Logo, A pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Particular afirmativa (I), Universal afirmativa (A), Particular afirmativa (I). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem IAI, foi Disamis.

Quarto silogismo da terceira figura:

A pertence a todo B,

C pertence a algum B,

Logo, A pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Universal afirmativa (I), Particular afirmativa (I), Particular afirmativa (I). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem AII, foi Datisi.

Quinto silogismo da terceira figura:

A não pertence a algum B,

C pertence a todo B,

Logo, A não pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas:

Particular negativa (O), Universal afirmativa (A), Particular negativa (O). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem OAO, foi Bocardo.

Sexto silogismo da terceira figura:

A não pertence a nenhum B,

C pertence a algum B,

Logo, A não pertence a algum C.

Qualidade e quantidade das premissas: Particular negativa (I), Particular afirmativa (A), Particular negativa (I). O nome dado a esse silogismo, respeitando a ordem EIO, foi Ferison.

A terceira figura é válida, porque toda conclusão nela é obtida necessariamente, sem precisar de nenhum termo adicional.

EXEMPLOS (Retirados do livro Lógica e Dialética de Mário Ferreira dos Santos):

Darapti:

A - Todo o metal é mineral;

A - Todo o metal é corpo;

I - Logo, algum corpo é mineral.

Felapton:

E - Nenhum metal é vegetal;

A - Todo o metal é corpo;

O - Logo, algum corpo não é vegetal.

Disamis:

I - Algum metal é chumbo;

A - Todo o metal é corpo;

I - Logo, algum corpo é chumbo.

Datisi:

A - Todo o metal é corpo;

I - Algum metal é chumbo;

I - Logo, algum corpo é chumbo.

Bocardo:

O - Algum metal não é chumbo;

A - Todo o metal é mineral;

O - Logo, algum mineral não é chumbo.

Ferison:

E - Nenhum metal é vegetal;

I - Algum metal é chumbo;

O - Logo, algum chumbo não é vegetal.

As três figuras de silogismo podem ser representadas da seguinte maneira:

Figura 1:

A – B

B – C

–––––

A – C

Figura 2:

M – N

M – Q

–––––

N – Q

Figura 3:

X – Y

Z – Y

–––––

X – Z

Existe ainda uma quarta figura nomeada pelos medievais. Vale lembrar que Aristóteles não apontava diretamente para uma quarta figura, embora deixe a impressão de reconhcê-la. Sua incorporação se deve a Teofrasto, pupilo e sucessor de Aristóteles na escola peripatética.
Nesta quarta figura, o termo médio é predicado na maior e sujeito na menor. Os modos são 5: (Exemplos retirados do livro Lógica e Dialética de Mário Ferreira dos Santos).

Bamalip: A. Todo o metal é corpo; A. Todo o corpo ocupa espaço; I. Logo, algum corpo que ocupa espaço é metal.

Camenes: A. Todos os brasileiros são americanos; E. Nenhum americano é europeu; E. Logo, nenhum europeu é brasileiro.

Dimatis: I. Alguns americanos são paulistas; A. Todos os paulistas são brasileiros; I. Logo, alguns americanos são brasileiros.

Fesapos E. Nenhum paulista é francês; A. Todos os franceses são europeus; O. Logo, alguns europeus não são paulistas.

Fresison: E. Nenhum brasileiro é europeu; I. Alguns europeus vivem no Brasil; O. Logo, alguns homens que vivem no Brasil não são brasileiros.

Mas Aristóteles não se contenta em provar que todos os modos da segunda e da terceira figuras são válidos, uma vez admitida a validade dos da primeira figura. Ele mostra também que todas as outras combinações de premissas, nas três figuras, não levam a uma conclusão silogística.

Por exemplo:

A pertence a todo B,

B não pertence a nenhum C.

Pode parecer que este par de premissas leva a uma conclusão necessária:

Animal pertence a todo homem,

Homem não pertence a nenhuma pedra,

Animal não pertence a nenhuma pedra.

Mas Aristóteles demonstra que esta forma de silogismo AEE não é válida, e neste último exemplo as duas premissas verdadeiras chegam a uma conclusão verdadeira apenas acidentalmente, não essencialmente, devido a uma forma válida de raciocínio.

Basta trocar o termo “pedra” por “cavalo” para mostrar a invalidade da forma:

Animal pertence a todo homem,

Homem não pertence a nenhum cavalo,

Animal não pertence a nenhum cavalo.

Isso mostra, além disso, que é possível obter-se de duas premissas verdadeiras uma conclusão falsa. No entanto, não é possível obter-se uma conclusão verdadeira de duas premissas falsas.

No entanto, todas essas regras e normas reduzem-se apenas a uma lei do silogismo, fundada num princípio ontológico: Duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si.

Para Aristóteles, os silogismos da segunda e da terceira figuras não são autoevidentes e precisam ser justificados. Para efetuar essa justificação, deve-se recorrer à regra da conversão das proposições, ou então à regra da redução ao absurdo, e transformar os silogismos da segunda e da terceira figuras num silogismo da primeira figura.

As regras de conversão e redução ao impossível são utilizadas para transformar um silogismo da segunda e da terceira figuras num silogismo da primeira figura, e assim conferir àqueles sua justificação.

1 - Conversão

A conversão das proposições, em primeiro lugar, funciona da seguinte forma: inverte-se a ordem do sujeito e do predicado num enunciado simples, de modo que o sujeito passa a desempenhar o papel de predicado, e o predicado, de sujeito.

Exemplo: A não pertence a nenhum B (O bem não pertence a nenhum mal)

B não pertence a nenhum A (O mal não pertence a nenhum bem)

Observação: no caso da universal negativa, a conversão pode ser feita sem mudar a quantificação, que é universal.

No caso da universal afirmativa, contudo, a conversão só pode ser feita sob a condição de mudar o quantificador, de universal para particular.

Exemplo: A pertence a todo B (Todo prazer é um bem)

B pertence a algum A (Algum bem é um prazer)





Essa regra, portanto, deve ser aplicada a algum enunciado de um silogismo da segunda e/ou terceira figuras para transformá-lo num da primeira figura.

Exemplo: A não pertence a nenhum B

A pertence a todo C modo Cesare

B não pertence a nenhum C





B não pertence a nenhum A

A pertence a todo C modo Celarent

B não pertence a nenhum C

A redução funciona em todos os silogismos da segunda e terceira figuras, a não ser nos modos Baroco e Bocardo. Para estes, devemos aplicar a regra da redução, explicada em seguida.

2 – Redução ao impossível

A redução ao impossível, em segundo lugar, funciona da seguinte forma: substitui-se a conclusão do silogismo pela sua contraditória. Substitui-se então alguma das premissas pelo enunciado contraditório obtido.

Exemplo de substituição pela contraditória:

A não pertence a algum B → A pertence a todo B

A pertence a algum B → A não pertence a nenhum B

Essa regra, portanto, deve ser aplicada às conclusões de Baroco e/ou Bocardo e, com a contraditória obtida, substituir por alguma das premissas a fim de transformar o raciocínio num daqueles da primeira figura.

Exemplo: A pertence a todo B

A não pertence a algum C modo Baroco

B não pertence a algum C

A conclusão é reduzida à sua contraditória:

B não pertence a algum C → B pertence a todo C

Substitui-se então alguma das premissas de Baroco por B pertence a todo C:

A pertence a todo B

A pertence a todo B → B pertence a todo C modo Barbara

A pertence a todo C

Vejamos como isso é feito:

1. Modo Cesare é transformado em Celarent ao converter a premissa “A não pertence a nenhum B” em “B não pertence a nenhum A”. Ele recebe assim sua justificação.

A não pertence a nenhum B (conversão para) B não pertence a nenhum A

A pertence a todo C                                             A pertence a todo C

B não pertence a nenhum C                                B não pertence a nenhum C

2. Modo Camestres é transformado em Celarent ao converter a segunda premissa “A não pertence a nenhum C” em “C não pertence a nenhum A”. Ele recebe assim sua justificação.

                                                                              A pertence a todo B

A não pertence a nenhum C (conversão para) C não pertence a nenhum A

B não pertence a nenhum C                               A pertence a todo B

C não pertence a nenhum A

3. Modo Festino é transformado em Ferio ao converter a primeira premissa “A não pertence a nenhum B” em “B não pertence a nenhum A”. Ele recebe assim sua justificação.

A não pertence a nenhum B (conversão para) B não pertence a nenhum A

A pertence a algum C                                          A pertence a algum C

B não pertence a algum C                                    B não pertence a algum C

4. Modo Darapti é transformado em Darii ao converter a segunda premissa “C pertence a todo B” em “B pertence a algum C”. Ele recebe assim sua justificação.

A pertence a todo B                               A pertence a todo B

C pertence a todo B (conversão para) B pertence a algum C

A pertence a algum C                             A pertence a algum C

Do mesmo modo, Felapton é transformado em Ferio, Disamis em Darii, Datisi em Darii, Ferison em Ferio.





4. SEGUNDOS ANALÍTICOS





Embora Aristóteles faça uma divisão das disciplinas, ele tem uma concepção unitária de ciência, segundo a qual o conceito “ciência” exprime qualquer doutrina que parte de princípios indemonstráveis e que procede dedutiva e demonstrativamente para chegar a conclusões necessárias. Existem disciplinas, elas são diferentes umas das outras segundo o gênero do objeto de que tratam, mas existe algo que as une e é justamente o fato de que elas têm que obedecer algumas regras, critérios e princípios de construção que possibilitam a montagem de seus sistemas teóricos.

Isso significa que é a lógica o ramo das ciências que permite unificar todas elas em um mesmo conjunto. A lógica o faz na medida em que fornece as regras, leis, critérios e princípios que regem o processo de construção das teorias. Para Aristóteles, o procedimento da ciência é dedutivo ou demonstrativo. A demonstração é definida por Aristóteles como uma argumentação na qual, sendo postas algumas premissas, algo de diferente delas resulta necessariamente. Esse raciocínio é dedutivo, quer dizer, ele demonstra as consequências que vêm dos princípios universais que foram aceitos como premissas. A “dedução” é uma forma de raciocínio que parte dessas premissas gerais para concluir alguma coisa de universal ou particular. Nela, o cientista assume princípios universais e, a partir deles, tira conclusões a respeito de algum caso ou estado-de-coisas presente na realidade.

Aristóteles elabora sua lógica – entendida como apodítica e demonstrativa – sob a concepção de que o sentido próprio da ciência é, fundamentalmente, ser um estudo das causas, e que a ela compete a determinação das causas que são necessárias, isto é, das causas que não podem ser de outra maneira. Definição essa que vale para cada um dos quatro tipos de causa – formal, material, eficiente e final. Para Aristóteles, aquilo que é suscetível de investigação pode ser buscado das seguintes maneiras, a partir do “que” (fato), do “por que” (causa), do “se é” (existência), do “o que é” (definição). Assim, depois que conhecemos o “que”, e de que nos asseguramos de que ele é, de que existe de fato, buscamos o “por que”, a sua causa. O conhecimento da ciência, portanto, é referente ao “por que”. Ela deve demonstrar que existem sempre certos nexos entre os sujeitos e algumas propriedades que lhes pertencem. A ciência se constitui a partir do estudo dessa necessidade. Constitui um exemplo do nexo necessário buscado pela ciência aquele entre o triângulo e sua propriedade de ter a soma dos ângulos internos igual a dois retos.

Nos Primeiros e Segundos Analíticos, Aristóteles empenha-se em privilegiar a apresentação silogística de relações causais, ou explicativas. Mas convém ressaltar que a noção de causa em Aristóteles não possui uma estrutura binária do tipo humeano – B é causa de A. A noção aristotélica de causa possui uma estrutura triádica, expressa da seguinte forma: B é causa de A para C, ou seja, a ciência deve explicar a presença, no sujeito C, do atributo A, e a causa se dá sempre como um termo intermediário entre o sujeito C e o atributo A.

Assim, Aristóteles deve escolher uma ferramenta de demonstração capaz de exprimir essa estrutura triádica de causalidade. A ferramenta desenvolvida por ele, para essa tarefa, é o silogismo. O filósofo afirma em diversas ocasiões que toda demonstração é um silogismo. Aristóteles define o silogismo, de modo geral, como um discurso ou raciocínio argumentativo no qual, sendo dadas duas premissas, algo de diferente delas resulta necessariamente. A escolha do silogismo como ferramenta demonstrativa se deve à sua aptidão para exprimir relações causais ou explanatórias.

Angioni, que sustenta essa posição, se contrapõe aos teóricos que defendem que Aristóteles elegeu o silogismo como ferramenta de demonstração devido às suas características puramente formais. Para ele, há três argumentos básicos que depõem contra a posição desses teóricos:

1) a demonstração (como expressão do conhecimento científico) se define fundamentalmente por sua preocupação em captar a causa ou explicação apropriada para dado explanandum: conhecer algo cientificamente é explicá-lo pela sua causa apropriada.

2) a noção de causa, em Aristóteles, tem uma estrutura triádica, a qual depende fundamentalmente da formulação predicativa do explanandum.

3) o que levou Aristóteles a escolher o silogismo como instrumento de demonstração foi, precisamente, a aptidão do silogismo para exprimir relações causais em sua estrutura triádica.

A demonstração silogística parte de premissas universais para conclusões particulares, mas para haver ciência em sentido próprio, e o silogismo científico exprimir uma causa dotada de necessidade, as premissas devem atender a alguns requisitos:

1 – Elas devem ser verdadeiras e designar algo que existe;

2 – Elas devem ser indemonstráveis, posto que, se fossem demonstráveis, elas seriam derivadas de outras premissas, as quais, por sua vez, teriam de ser demonstradas, e assim ad infinitum;

3 – Elas devem ser primeiras, anteriores, constituindo a causa da conclusão, o que pressupõe que elas são imediatamente conhecidas, mais do que a conclusão que se extrai delas; e a expressão “mais conhecidas” inclui tanto o conhecimento para nós, oriundo da sensação, quanto o conhecimento universal;

Atendendo a esses critérios, as premissas são chamadas “princípios próprios”, que podem ser do tipo da “definição” (definição do ponto, da unidade) ou do tipo da “pressuposição” (nexo entre sujeito e predicado, que diz se algo é ou não). Os princípios, na maioria, são alguns “princípios comuns” que só são válidos para algumas ciências particulares. Mas constituem exceções a essa regra o “princípio da não-contradição” e o do “terceiro excluído” que valem para todas as ciências. Trata-se de leis ou regras gerais que garantem a correção da demonstração.

Para Aristóteles, não há possibilidade de haver uma ciência universal capaz de demonstrar todos os princípios. Cada ciência é independente e autônoma em relação às outras, valendo-se de seus princípios comuns para fazer suas demonstrações. Determinados princípios que só pertencem a uma ciência em específico não podem, assim, ser transferidos e aplicados em outras ciências. Mas o filósofo admite uma exceção em relação às ciências matemáticas, na medida em que a geometria fornece princípios para a ótica e a astronomia, e a aritmética fornece para a harmônica. Ótica, astronomia e harmônica, portanto, são ciências subalternas em relação à matemática.

Além disso, convém observar que, para constituir a demonstração, as premissas devem satisfazer a exigência de exprimir a causa apropriada. Como determinar, porém, qual a causa apropriada? Suponhamos o caso em que devemos decidir entre duas explicações concorrentes para um mesmo explanandum:

1 - “todo homem é mortal porque todo homem é animal e todo animal é mortal”;

2 - “todo homem é mortal porque todo homem é mamífero e todo mamífero é mortal”.

Outro problema que surge é saber se, ao fazermos a escolha de uma delas como causa apropriada, a outra opção deva ser considerada falsa. De modo algum, pois há que se admitir a existência de níveis diferentes de relevância explanatória entre as explicações. De onde decorre que ambas as proposições, 1 e 2, podem ser consideradas uma explicação verdadeira, mas que uma delas o é em nível mais relevante e adequado. O fato de 1 ser mais apropriada não afeta em nada o valor de verdade de cada uma das premissas que constituem 2: que todo homem é mortal, que todo homem é mamífero, que todo mamífero é mortal. O problema reside no “porque” que, estando presente na proposição 2, transforma-a em uma sentença explanatória, e é justamente por isso que ela adquire a falsidade. Com efeito, não é porque todo homem é mamífero que ele é mortal. Mas convém observar que a verdade de cada uma das premissas de 2 é compatível com sua falsidade, quando, através do porque, ela assume uma pretensão explanatória.

O ponto a ser salientado aqui, de acordo com Angioni, é que “explicações rivais para um mesmo explanandum podem ser entendidas como sentenças verdadeiras, embora tenham níveis distintos de relevância explanatória”. O “porque” é o elemento que introduz a pretensão de explicação. Depois de admitida a tese sobre níveis diferentes de relevância explanatória, segue-se a necessidade de existir uma “explicação” que seja a mais fundamental, a que deve ser mencionada com o advérbio “primeiramente”, isto é, a mais primeira de todas. É justamente desta que trata o conhecimento científico. A explicação primeira e mais apropriada é aquela que apresenta a essência do explanandum. Outro ponto fundamental a ser notado é que a estrutura triádica da causalidade, em Aristóteles, é fundamentalmente predicativa em relação ao que deve ser explicado, o que significa que buscar a causa é sempre explicar por que há a presença de determinado atributo em um dado sujeito.

A estrutura formal dos silogismos, entretanto, em nada contribui para determinar quais causas são mais apropriadas, do ponto de vista da explanação cientificamente relevante, e quais não são. Como vimos, o valor de verdade que cada uma das premissas de 2 contém nem por isso exprime a causa. A explicação apropriada, portanto, é irredutível à estrutura meramente formal da demonstração. Mas convém deixar esclarecido que o uso do silogismo na investigação da causa traz o benefício de ressaltar o aspecto de relevância contido na noção de explicação pela causa apropriada.

A investigação da causa é uma busca pelo intermediador da coisa. Primeiramente, deve-se constatar se há um intermediador. Em caso afirmativo, deve-se investigar então “o que” ele é. O intermediador é a causa da coisa e, nessa condição, ele exprime a essência, ele é o por que algo é como é. Nesses casos, portanto, “o que é” e “por que é” são idênticos. Por exemplo:

1 - "O que é o eclipse?": privação de luz devido à interposição da Terra.

2 - "Por que a lua sofre eclipse?": por faltar luz, ao se interpor a Terra.

Devemos agora tratar das distinções que existem entre definição e demonstração, pois surge a dúvida sobre se é possível conhecer o mesmo item, sob o mesmo aspecto, tanto por definição quanto por demonstração. Aristóteles diz que há 3 modos em que se diz que há definição:

1º - a definição referente aos imediatos, que surge de um enunciado indemonstrável do “o que é”;

2º - a definição que é um silogismo do “o que é”, diferente da demonstração por causa do tipo de declinação empregada;

3º - a definição referente à conclusão obtida na demonstração do “o que é”.

Além disso, será preciso reter o seguinte: a respeito do “o que é”, não são gerados silogismo nem demonstração, embora o “o que é” torne-se evidente por meio deles. Portanto, é preciso demonstração para obter o conhecimento da causa do “o que é”. Depois de ter salientado esses pontos, podemos argumentar que não é possível conhecer o mesmo item por definição e por demonstração. Aristóteles elenca alguns motivos:

1 - Alguns silogismos são privativos, outros não são universais.

2 - Conhecer o demonstrável é possuir demonstração, assim, não pode haver também definição, pois, neste caso, pode-se conhecer conforme a definição, sem possuir a demonstração.

3 - A partir da indução: jamais se reconhece algum dos que se atribuem por si mesmos ou concomitantes por definição. Pois se a definição é conhecimento da essência de algo, os itens acima não são essências.

4 - É evidente que não, pois daquilo que é um, há um único conhecimento. Visto que conhecer o demonstrável é possuir a demonstração, decorreria algo impossível: pois quem possuísse a definição conheceria o demonstrável sem demonstração.

5 - Além do mais, são definições os princípios das demonstrações e foi provado que, a respeito dos princípios, não há demonstração, pois iria ao infinito. Os itens primeiros hão de ser definições indemonstráveis.

6 - A definição é do "o que é" e da essência, ao passo que as demonstrações, todas elas, manifestamente, assumem o "o que é" e o estabelecem como fundamento; por exemplo, as matemáticas assumem o que é a unidade e o que é o ímpar.

7 - além do mais, toda demonstração prova algo a respeito de algo, isto é, que é o caso ou que não é o caso, e são coisas distintas mostrar o "o que é" e mostrar que é o caso (algo se predica de outro, pertence ou não pertence a outro). A definição mostra "o que é", ao passo que a demonstração mostra que isto é o caso a respeito daquilo, ou que não é o caso.

Mas, se existem princípios que são indemonstráveis, é manifesto que deve existir um saber específico referente a tais princípios. Este saber não pode ser do tipo demonstrativo, o que se conclui das proposições acima. Aristóteles se refere a esse saber sob o nome de noûs, que alguns autores traduzem por inteligência. Contudo, cabe observar que o noûs, a rigor, não chega a constituir uma ciência, pois toda ciência, para Aristóteles, envolve raciocínio e demonstração.

A inteligência, no sentido aristotélico, pode ser comparada a um ato de atingir, o qual é irredutível à oposição entre verdadeiro e falso, não constando, portanto, na categoria do juízo. Pode-se dizer da inteligência que, se ocorre de ela atingir algo, ela é sempre verdadeira, mas, se ocorre de ela não atingir, não se trata de falsidade, e sim de ignorância. Aristóteles declara, com efeito, a respeito das essências, que não é possível enganar-se, e sim apreendê-las ou não. Mas essa determinação pode também ser conciliada com outra afirmação de Aristóteles de que a inteligência, além da imediatidade, envolve uma epagogé, um "ser guiado ou conduzido em direção de alguma coisa", uma introdução em alguma matéria. É o caso do docente e do discípulo que se encontram em uma situação de ensino, e este é conduzido à apreensão dos princípios por aquele. O que indica que o noûs é fruto de um processo, quando aquele que aprende é levado a abraçar todas as etapas de um conhecimento com um só olhar.

A demonstração, por essência, é um monólogo, já que somente o que demonstra toma a palavra, dirigindo-a aos ouvintes a fim de ensinar a verdade de alguma coisa a quem a ignora e que deve aprender. A dialética, pelo contrário, é um diálogo.

Para Aristóteles, não se deve estabelecer que a denominação signifique coisas em número ilimitado, pois assim não é possível haver discurso. "Pois não significar uma só coisa significa nada significar", e assim, não haveria possibilidade de conversa. Só é possível pensar algo uno, e ao pensar, estabelecer para tal coisa uma denominação una. Portanto, quando se faz a pergunta sobre se tal sujeito é homem, não se deve acrescentar os concomitantes, deve-se limitar a resposta à enunciação de algo que significa uma só coisa, já que os concomitantes existem em número ilimitado e não podem ser percorridos todos. Aquele que faz isso não está dialogando. Deve surgir na significação da essência algo uno, e se fôssemos enumerar os concomitantes, teríamos que proceder ao infinito.

Nos Segundos Analíticos, o objetivo principal de Aristóteles é mostrar como os silogismos são utilizados na demonstração científica. Para exemplificar isso, o melhor caminho é considerar a primeira demonstração que consta nos Elementos de Euclides.

Primeiro, Euclides fornece as definições:

I. Ponto é o que não tem partes, ou o que não tem grandeza alguma.

II. Linha é o que tem comprimento sem largura.

III. As extremidades da linha são pontos.

IV. Linha reta é aquela, que está posta igualmente entre as suas extremidades.

V. Superfície é o que tem comprimento e largura.

VI. As extremidades da superfície são linhas.

VII Superfície plana é aquela, sobre a qual assenta toda uma tinha reta entre dois pontos quaisquer, que estiverem na mesma superfície.

VIII. Ângulo plano é a inclinação recíproca de duas linhas, que se tocam em uma superfície plana, sem estarem em direitura uma com outra.

Em seguida, Euclides fornece alguns axiomas:

AXIOMAS

I. As cousas, que são iguais a uma terceira, são iguais entre si.

II. Se a cousas iguais se juntarem outras iguais, os todos serão iguais.

III. E sé de cousas iguais se tirarem outras iguais, os restos serão iguais.

IV. E se a cousas desiguais se juntarem outras iguais, os todos serão desiguais.

V. E se de, cousas desiguais se tirarem cousas iguais, os restos serão desiguais. A partir dessas definições e axiomas, Euclides procede numa série de demonstrações e construções.

Vejamos a primeira delas:

Sobre uma linha reta determinada descrever um triângulo equilátero. Seja a linha reta AB de um certo comprimento. Deve-se sobre ela descrever um triângulo eqüilátero. Com o centro A, e com o intervalo AB se descreva o círculo BCD (Postulado 3: E que com qualquer centro e qualquer intervalo se descreva um círculo.); e com o centro B, e com o intervalo BA se descreva o círculo ACE. Do ponto C, onde os círculos se cortam reciprocamente, tirem-se (Post. 1.) para os pontos A, B as retas CA, CR O triângulo ABC será equilátero. Sendo o ponto A o centro do círculo BCD, será AC = AB (Def. 15.). E sendo o ponto B o centro do círculo CAE, será BC = BA. Mas temos visto CA = AB. Logo, tanto CA, como CB, é igual a AB. Mas as cousas, que são, iguais a uma terceira, são iguais entre si (Ax. 1.). Logo, será CA = CB. Logo as três retas CA, AB, BC são iguais; e por conseqüência, o triângulo ABC, feito sôbre a reta dada AB, é eqüilátero.





5. TÓPICOS





Nos Tópicos, Aristóteles trata da arte da disputa, chamada de dialética, que é um tipo de debate.

O espetáculo da mutabilidade das coisas no tempo despertou nos antigos a ideia da luta dos contrários. Vemos essa ideia, por exemplo, nos mitos de origem em Hesíodo, na filosofia de Heráclito, que diz que a guerra é o pai de todas as coisas, no Ying Yang taoísta, etc. É possível constatar nessa ideia a tentativa que aparece muito cedo na humanidade de reduzir a complexidade do universo em um esquema explicativo simples. Em função desse esquema da luta dos contrários, é que surge a dialética, que já estava de algum modo em germe na imagem da luta, da oposição. Mas a dialética como método de investigação, treinamento e educação aparece sobretudo em Sócrates. Nele e em Platão, o contraste entre várias ideias contrárias é visto como uma espécie de escalada que, através dos contrários, vai chegando a algo mais elevado e permanente que existe acima e que, na verdade, é indizível, obrigando Sócrates a recorrer a um mito, uma história, uma figura poética, a fim de o expressar. A dialética permite então o vislumbre desse algo, é um exercício ascético da mente que vai superando o mundo da mutabilidade, subindo acima dele. A dialética em Sócrates e Platão era uma prática já consolidada. Aristóteles, no entanto, faz a decodificação dessa prática em termos lógicos sistemáticos e a transforma em uma ciência. Que tipo de ciência é a dialética? É a ciência da discussão, a técnica da discussão ordenada, que funciona do seguinte modo: Para qualquer assunto colocado em discussão, existe uma multiplicidade de opiniões assumidas dentro da cultura. Essa multiplicidade não é uma multiplicidade ordenada, e sim uma mixórdia de opiniões divergentes e antagônicas. O investigador dialético fará o levantamento de todas aquelas opiniões sustentadas pelas pessoas reputadas de sábias e sensatas. Ele não levantará uma opinião pública uniforme, isto é, aquelas que têm o consenso da comunidade, e sim aquelas opiniões conflitantes entre si.

Em seguida, o investigador dialético buscará colocar ordem na mixórdia. Para isso, ele deve ordenar as opiniões classificando-as de acordo com a estrutura da realidade. Para Aristóteles, a realidade é múltipla e pode ser considerada de vários ângulos diferentes. Assim, as opiniões que aparentemente estão em conflito podem estar, na verdade, falando da mesma coisa, só que de um ponto de vista diferente, podem estar tomando o mesmo objeto só que de um aspecto diferente. O procedimento requerido então será o de depuração da linguagem, quer dizer, o dialético deve limpar os equívocos da língua através da classificação das palavras e proposições. As palavras são classificadas por Aristóteles em três tipos: Homônimas: duas coisas diferentes com o mesmo nome. Por exemplo, o gato animal e o gato – instalação elétrica ilegal. Sinônimas: uma mesma coisa com vários nomes. Devemos, no caso destas, afastar os equívocos e fixar o significado. Por exemplo, agudo, que num contexto musical significa uma coisa e noutro contexto outra coisa: uma dor aguda, etc. Parônimas: palavra derivada de outra. Por exemplo: livro e livraria.

O próximo procedimento que o dialético faz é encontrar resposta para a pergunta: a opinião referida está falando do que? Ela está fazendo que tipo de predicação? Aristóteles mostra que existem quatro tipos de predicáveis, quatro maneiras de se falar a respeito de algo:

(I) a definição (o que a coisa é essencialmente);

(II) o gênero (a classe mais abrangente a que a coisa pertence);

(III) a propriedade (um traço que não pertence à essência, mas que deriva consequentemente dela);

(IV) o acidente (uma característica que pode pertencer ou não pertencer à coisa).

Assim, o dialético chega ao passo seguinte, que é tentar responder: o que a opinião referida está falando do seu objeto? Nos predicáveis, respondemos a respeito “do que”, agora, buscamos responder “o que” pode ser dito a respeito de algo. Aristóteles mostra que algo pode ser dito de algo de dez maneiras diferentes, e para isso ele apresenta uma lista de categorias: substância, qualidade, quantidade, relação, onde, quando, ação, paixão, posição. O que quer que alguém diga sobre alguma coisa deve estar indicando algumas dessas categorias.

Na hora, então, em que você pega todas as proposições aparentemente conflitantes e reclassifica segundo as regras acima e diz: ah isto está falando disso, aquilo está falando daquilo outro, etc e etc., então você automaticamente transforma a mixórdia de opiniões em um sistema de proposições ordenado. Sobre essas opiniões recebidas, é construído então o arcabouço de uma teoria. Só depois é que se começa a investigar propriamente, e a conferir as opiniões com os fatos. A dialética é um procedimento sistemático de montagem da questão. Para qualquer coisa que se deseje investigar, é preciso primeiro saber montar adequadamente a questão, botar em ordem a discussão a fim de que ela se torne cada vez mais propícia a avançar na direção de uma resposta. A dialética assim é uma ciência das proposições conflitantes.

Notar então que a ciência começa com a dialética, pois é através desse recurso metodológico que se faz a discussão dos conceitos fundamentais de qualquer ciência. Na inauguração de uma ciência, a primeira tarefa a ser feita é buscar os conceitos fundamentais, os quais devem ser depurados das ambiguidades e obscuridades e adquirir um significado unívoco em relação ao objeto a que se referem. A dialética permite a fixação do significado científico dos conceitos fundamentais. Vemos então que em Aristóteles a dialética parte das contradições e articula essas contradições, transitando entre opiniões opostas até ser capaz de pegar o que é mais provável, o que é mais suscetível de ser verdadeiro. Assim, a dialética é concebida não mais como uma escalada espiritual, como era em Platão. A dimensão espiritual da dialética desaparece. A dialética deixa de ser uma disciplina espiritual e passa a ser uma técnica destinada a 3 fins:

(i) a arte da discussão, que é desenvolvida com requintes extraordinários;

(ii) para a educação e treinamento;

(iii) quando você vai estudar qualquer novo assunto cujos primeiros princípios você não conhece, não existem premissas para raciocinar sobre eles, e essas premissas têm que ser encontradas. Não é possível encontrar tais premissas por dedução, porque a dedução sempre parte de uma premissa para uma conclusão. Só lhe resta partir das hipóteses existentes e confrontá-las até que as premissas referentes àquela ordem específica de objetos apareça. E aí você pode usar a própria dialética para conferir e testar tais premissas. A dialética é um discurso em que você trata daquilo que você não conhece com a finalidade de conhecer. Aristóteles a chamava também de peirástica, que vem de peiras, que significa tentativa e erro, um procedimento experimental, designa o esforço de investigação que vai às apalpadelas buscando os princípios que possam desempenhar o papel de premissas.

A partir do processo dialético, tudo aquilo que foi descoberto, conferido e verificado como verdadeiro deve ser articulado num sistema lógico-dedutivo. Depois de passar por uma filtragem dialética, as proposições devem funcionar como premissas de uma demonstração, num discurso lógico coerente e completo em todos os seus pedaços.

A interpretação de dialética que Aristóteles apresenta nos Tópicos é a de um tipo de debate, especificado por um conjunto de regras que devem ser seguidas pelos interlocutores. O conjunto de regras que Aristóteles prescreve e que devem ser cumpridas no debate dialético é de tal modo articulado que permite a obtenção, no final, de uma série de proposições verdadeiras sobre determinado tema ou objeto que foi colocado em questão.

Aristóteles deixa claro, logo no início dos Tópicos, o objeto que deve ser estudado nesse tratado:

T1: (i) O objeto desse estudo [pragmateia] é encontrar um método com o qual seremos capazes de (ii) construir silogismos [sullogizesthai] a (iii) partir de premissas aceitáveis [ex endoxôn] (iv) acerca de qualquer problema [problema] que seja proposto e – (v) quando nós mesmos nos submetemos ao argumento [autoi logon hupechontes] – não dizer nada inconsistente. (Top. I 1 100a18-21)

A finalidade proposta é capacitar o praticante da dialética a executar de maneira adequada as técnicas que são requeridas em discussões desse tipo. O método a ser ensinado então é "um tipo de codificação de como proceder num debate de acordo com as regras que o regulam". Uma das habilidades a ser desenvolvidas, por exemplo, é a de ordenação do silogismo dialético, por parte do questionador, que assume a função de contestar a tese que seu adversário defende. Para isso, Aristóteles mostra alguns passos a serem seguidos a fim de formular o silogismo dialético, dispondo adequadamente as premissas do argumento, que são a partir de endoxa. Uma importante exigência é que as premissas levantadas sejam aquelas suscetíveis de receber apenas uma resposta entre "sim" e "não".

Logo, para haver dialética, a definição ou distinção deve ser oferecida em forma de pergunta de modo a obter um assentimento ou dissentimento. O questionador, buscando atacar a posição de seu adversário, deve descobrir o topos apropriado. O ataque é a atitude de perguntar, adotada pelo questionador. O método oferecido nos Tópicos busca desenvolver habilidades específicas de maneira a tornar alguém competente no cumprimento dessa tarefa de ataque, própria da dialética. A conduta do questionador, ao colocar as perguntas, deve ser concordante com um tipo determinado de procedimento dialógico.

Uma das habilidades prescritas é a dedução silogística. Constitui uma dedução silogística o modo de ordenação das premissas de um argumento que torne possível a obtenção de uma conclusão válida do ponto de vista lógico. Como o silogismo dialético é um tipo de silogismo, obviamente que ele cai na definição de silogismo, enquanto "argumento em que, certas coisas estando supostas, algo diferente dessas suposições resulta por necessidade através delas.” (Top. I 1 100a 25-27). O silogismo dialético se diferencia de outros tipos de silogismo como o demonstrativo e o erístico. Uma de suas particularidades é a aptidão para deduzir silogisticamente a partir de endoxa.

A diferença entre silogismo demonstrativo e dialético é que o primeiro tem o objetivo de propiciar conhecimento científico, "provando a conclusão da demonstração por meio do termo mediador que evidencia a relação causal entre as premissas e a conclusão da demonstração", ao passo que o silogismo dialético não assume essa pretensão, sendo usado num contexto diferente e com objetivos diferentes. O objetivo do silogismo dialético é o ataque à tese que o respondedor sustenta.

No caso do silogismo demonstrativo, as premissas de partida devem ser primeiras e indemonstráveis, pois a demonstração não pode prosseguir ao infinito. O que credencia tais premissas para serem usadas num raciocínio demonstrativo é a sua aptidão para serem primeiras, imediatas e independentes. As premissas do silogismo dialético, por outro lado, obtêm sua autoridade de premissas por intermédio de algo que não elas mesmas. Para Aristóteles, as premissas dialéticas adquirem suas credenciais por serem endoxa.

Os requisitos que as premissas devem preencher, para serem endoxa, é que sejam provenientes daquilo que parece aceitável "a todos, ou à maioria das pessoas, ou aos sábios – a todos eles, ou à maioria, ou aos mais famosos e reputados". O termo endoxa tem o significado daquilo sobre o qual há consenso, dentre as pessoas, e que é ‘de boa reputação’, ‘reputável’, ‘respeitável’. O questionador se apoia nos endoxa para derivar alguma inconsistência lógica da parte da posição assumida pelo respondedor. Ninguém, no debate, seria leviano de ir contra as posições aceitas pela maioria das pessoas consideradas sábias e respeitáveis, sob o risco de adquirir má reputação.

Aristóteles dá exemplo de endoxa que são inconsistentes entre si. Isso basta, pois, para mostrar que ele não os considera como proposições informativas sobre a realidade das coisas, e sim proposições às quais é atribuída uma boa reputação, sendo aceitas pela maioria das pessoas consideradas razoáveis.

Um outro tipo de silogismo é chamado de silogismo erístico. A particularidade que este possui, em relação aos demais, é que ele parte de endoxa aparentes, ou seja, endoxa usados em argumentos que são:


Não-válidos do ponto de vista formal.


Capciosos, ou seja, propositadamente levantados para enganar.

“O silogismo erístico é a contraparte do silogismo dialético porque pode ser um argumento que ou (a) não é válido, ou (b) parte de endoxa aparentes, ou (c) é formado por (a) e (b)”.

Há duas funções a serem executadas no debate dialético: a de questionador e a de respondedor. Depois de ambos assumirem premissas endoxa, o questionador deve conduzir a discussão de maneira a levar o respondedor a defender uma posição inconsistente com as proposições assumidas de início. O respondedor, por sua vez, deve evitar que seja inferida uma posição inconsistente com as proposições por ele assumidas. Sua função, pelo menos, será fazer parecer que não resulta de sua proposição algo impossível ou paradoxal. Ele deve parecer não ser afetado, dizendo que a inconsistência é resultante da fraqueza da tese, e não dele próprio.

Assim, o debate dialético é como um jogo sem vencedores ou perdedores, ele não visa, na verdade, a competição, uma vez que não importa que a posição seja sustentada ou refutada para o alcance dos fins do debate. Porque, se o respondedor assume inconsistências, isso se deve não por falha sua, mas por aquelas serem implicadas logicamente pela tese assumida. Quadro similar se aplica ao questionador, que mesmo que não consiga refutar, não importa, já que a função da dialética não depende da refutação para ser adequadamente cumprida.

A finalidade da dialética é testar a tese que foi submetida à discussão, e não defender ou refutar. Ela, portanto, não exige da parte dos debatedores compromisso algum com as posições levantadas. “O debate dialético é um trabalho comum entre respondedor e questionador que não visa a vitória de um deles, mas o exame da tese assumida”. Mas isso não implica que os debatedores possam encetar a discussão de modo negligente, pois eles devem se valer de todos os recursos argumentativos para obter a finalidade que de início foi colocada. Além disso, outra condição imposta é que o dialético competente deve possuir habilidades e conhecimentos não de exclusivo uso da dialética, mas deve também possuir saberes compartilhados por várias áreas discursivas.

As artes que entram nesse tipo de debate são denominadas artes estocásticas. Os Tópicos parecem ter sido escritos para fornecer então um manual de como exercer o debate nesses termos. Eles visam codificar as competências necessárias para uma boa perfomance dialética, seja para defender, seja para refutar.

Devemos levar em conta também o fato de que "problema" é um termo que desempenha um papel técnico no contexto dos Tópicos. Ele é uma pergunta detentora de uma forma específica, assim como uma premissa. Enquanto que “a premissa dialética é uma pergunta do tipo ‘é o caso de x ser y?’, o problema dialético é uma pergunta do tipo ‘x é y ou não?".

Agora, tratando do procedimento do debate em si:

Tese equivale no texto dos Tópicos a problema, que é uma posição paradoxal sustentada por algum filósofo.

Pergunta: X é Y ou não?

O respondedor deve optar por uma das alternativas contraditórias entre si.

Um dos lados é endoxon, o outro é adoxon1.

O questionador atacará a posição do respondedor a partir de padrões argumentativos gerais (topoi). Os primeiros livros dos Tópicos são dedicados à exposição desses padrões, os quais estão fundados “nas relações predicativas baseadas na divisão de predicáveis”, ou seja, os 4 predicáveis apresentados no livro 1: definição, próprio, gênero e acidente. Os topoi “parecem se comportar como premissas que legitimam parte do argumento construído pelo questionador”.

Há também que se notar a distinção entre endoxon sem qualificação e endoxon que estão de acordo com certas pessoas. Os endoxa sem qualificação são aqueles que são aceitos por todas as pessoas, indiscriminadamente, ao passo que os endoxa qualificados são aqueles que gozam da reputação de aceitáveis entre um grupo determinado de pessoas.

O ensino dirigido aos aprendizes da dialética inclui também a técnica de se fazer indução, com base em fatos próximos da experiência, indução cuja utilidade, no raciocínio dialético, é permitir a obtenção das premissas necessárias a partir das quais a conclusão é inferida.

Em Top. VIII 1 156a 4-7143, Aristóteles diz que a obtenção de premissas universais por indução é um procedimento que parte do que é familiar (gnôrimon) para o que não é familiar (agnôston). Aristóteles, então, explica que ser mais familiar (gnôrimon mallon) é o que é baseado na percepção. A indução, nos Tópicos, é um argumento em que o questionador propõe perguntas concernentes a particulares ou indivíduos supostamente de um mesmo tipo para conseguir, posteriormente, a aceitação de uma proposição universal que subsuma todas as instâncias para as quais o questionador recebeu aceitação.

Mas vale assinalar que o ensino dos mais experientes deve incluir antes a dedução do que indução.

Aristóteles não proíbe o uso de endoxa falsos nas premissas dos debates dialéticos, na medida em que é possível extrair uma conclusão verdadeira delas. Além disso, o debatedor não precisa estar comprometido com a verdade ou falsidade daquilo que sustenta. Donde o debate dialético caracterizar-se pela neutralidade. Um silogismo falso então pode ser usado quando o questionador deve obter uma conclusão verdadeira porque o respondedor optou por uma tese falsa. Se consideramos que premissas dialéticas são endoxa, e há argumentos dialéticos válidos e não passíveis de crítica por terem premissas falsas, a dialética aristotélica aceita como legítimo o uso de endoxa falsos.

Diferença entre um debate qualquer e a DIALÉTICA: “Argumentar a favor de uma tese é um procedimento descrito de modo extremamente vago e efetuado por qualquer pessoa que participe de uma atividade discursiva qualquer, ao passo que Aristóteles propõe um debate que siga uma definição de um tipo particular de argumento, o silogismo. Esse debate se baseia na construção de um silogismo que busca concluir a proposição contraditória à proposição escolhida pelo respondedor quando o problema dialético lhe foi apresentado”.

O que os Tópicos visam oferecer é um método capaz de desenvolver competências discursivas a serem usadas num tipo de debate no qual se constitui o silogismo dialético. Isso recebe confirmação do próprio Aristóteles:

“A consideração de todos os tipos de silogismos, sem distinção, é função da dialética, seja da dialética como um todo ou de parte dela.” (Ret. I 11355a 8-10. Tradução de W. Rhys Roberts, com modificações).

Os elementos que compõem o silogismo, de acordo com os Tópicos, são os problemas e as premissas obtidas a partir de endoxa.

Assim, podemos concluir que a dialética é um debate de tipo específico, constituído pela construção de silogismos levada a cabo mediante a execução da função do questionador, que obtém as premissas do silogismo por meio da aceitação pelo respondedor. Assim, questionador e respondedor desempenham papéis diferentes, mas solidários, em vista do fim visado em um debate dialético: o teste de consistência da proposição assumida pelo respondedor. O ideal de koinon ergon estabelece a demarcação entre a dialética e a agonística. A dialética visa o teste de proposições e não a vitória de um dos debatedores.

A boa performance do questionador envolve a escolha adequada da estratégia para fazer as perguntas e obter as premissas que permitem a inferência da conclusão, tornando necessário que o questionador tenha disponível uma gama variada de topoi que podem ser empregados para estabelecer as premissas das quais o silogismo depende. Os topoi se distinguem de acordo com as relações predicativas das proposições que visam estabelecer ou destruir. Aristóteles diz em Top. I 4 e I 8 que os tipos de predicações são divididos exaustivamente em quatro predicáveis: definição, gênero, próprio e concomitante.

Ao fazer recurso aos predicáveis e categorias, Aristóteles pretendia sistematizar o modo como as proposições eram utilizadas no debate dialético e não prescrever uma teoria da predicação para além do escopo do debate dialético. Desse modo, não é preciso que o dialético competente possua um tipo de conhecimento metafísico especializado para desempenhar sua função. A competência dialética se funda no uso ordinário da competência linguística.





QUANTIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES SILOGÍSTICAS:

"Tal quantificação das proposições, como apontado anteriormente, se apresenta como: universal afirmativa; universal negativa; particular afirmativa; e particular negativa".


‘adoxon’ pode ter dois sentidos: pode significar tanto uma tese a partir da qual absurdos se seguem, por exemplo, se alguém dissesse que todas as coisas se movem ou que nenhuma; ou pode significar o que o mau caráter escolheria e que é contrário às coisas que queremos, por exemplo, que prazer é bem

ou que fazer o mal é melhor que o sofrer.





6. REFUTAÇÕES SOFÍSTICAS





Nas Refutações Sofísticas, Aristóteles mostra como não ser enganado num debate com os sofistas, como refutar suas falácias. Dos Analíticos até as Refutações Sofísticas há o movimento dos princípios de como não errar nos raciocínios até o como não ser enganado num debate. Como evitar o erro, no primeiro caso, e como evitar o engano, no outro.
O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro.[1] Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente incoerente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.

Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos e as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas.

É importante observar que o simples fato de alguém cometer uma falácia não invalida toda a sua argumentação. Ninguém pode dizer: "Li um livro de Rousseau, mas ele cometeu uma falácia, então todo o seu pensamento deve estar errado". A falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela ocorre, o que significa que só esse argumento específico será descartado da argumentação, mas pode haver outros argumentos que tenham sucesso. Por exemplo, se alguém diz:

"O fogo é quente e sei disso por dois motivos:

1. ele é vermelho; e
2. medi sua temperatura com um termômetro".
Nesse exemplo, foi de fato comprovado que o fogo é quente por meio da premissa 2. A premissa 1 deve ser descartada como falaciosa, mas a argumentação não está de todo destruída. O básico de um argumento é que a conclusão deve decorrer das premissas. Se uma conclusão não é consequência das premissas, o argumento é inválido. Deve-se observar que um raciocínio pode incorrer em mais de um tipo de falácia, assim como que muitas delas são semelhantes.

Os tipos de falácia tratados por Aristóteles hoje são bem conhecidos:

Falácias da ambiguidade
Equívoco
Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto.[6]

Ex.: Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças.

Joga-se com os significados das palavras. A palavra "humanos" possui vários sentidos, pode ser um tipo de primata (sentido biológico) ou uma boa pessoa (sentido moral), mas a falácia usa a palavra sem considerar a diferença de sentido.

Anfibologia
Ocorre quando as premissas usadas no argumento são ambíguas devido a sua má elaboração sintática.

Ex.:

Venceu o Brasil a Argentina.
Ele levou o pai ao médico em seu carro.
1. Quem venceu? 2. No carro de quem?

Nesse caso, toda a frase possui sentidos diversos a depender do contexto.

Ênfase
Enfatizar uma palavra para sugerir o contrário.

Ex.: Hoje o capitão estava sóbrio (sugerindo embriaguez).

Pronuncia-se a palavra "hoje" com muita força para sugerir que ele é um alcoólatra.

É uma ironia.

Apelo a motivos
Argumentum ad baculum (apelo à força)
Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça para impor a conclusão.

Ex.: Acredite no que eu digo, não se esqueça de quem é que paga o seu salário.

O oponente pode perder a coragem de enfrentar seu chefe porque pode perder o emprego.

Argumentum ad consequentiam (apelo à consequência)
Considerar uma premissa verdadeira ou falsa conforme sua consequência é desejada.

Ex.: Papai Noel existe, porque eu ficaria muito triste se não existisse.

A premissa é tida como válida somente porque a conclusão é desejada.

Argumentum ad metum (apelo ao medo)
Apelar ao medo para validar o argumento. É uma variação do apelo à consequência.

Argumentum ad misericordiam (apelo à misericórdia)
Também chamado apelo à piedade. Consiste no recurso à piedade ou a sentimentos relacionados, tais como solidariedade e compaixão, para que a conclusão seja aceita, embora a piedade não esteja relacionada ao assunto ou à conclusão do argumento.[7] Do argumento ad misericordiam deriva o argumentum ad infantium - "Faça isso pelas crianças" e também o argumento ad sinistram - "Faça isso pelo proletário". A emoção é usada para persuadir as pessoas a apoiar (ou intimidá-las a rejeitar) um argumento com base na emoção, mais do que em evidências ou razões.

Apelo à emoção
Recorrer à emoção para validar o argumento.

Ex.: Apelo ao júri para que contemple a condição do réu, um homem sofrido, que agora passa pelo transtorno de ser julgado em um tribunal.

O advogado quer que o júri absolva o réu por compaixão. É semelhante ao apelo à misericórdia.

Argumentum ad antiquitatem (apelo à antiguidade)
Afirmar que algo é verdadeiro ou bom somente porque é antigo ou porque "sempre foi assim".

Ex.: Os homens da caverna já faziam assim, esta é a maneira correta de se fazer.

Ex. 2: Nossos avós educavam dessa maneira, assim é o jeito certo de educar.

Argumentum ad novitatem (apelo à novidade)
Argumentar que o novo é sempre melhor, sem uma justificativa.

Ex.: Na filosofia, Sócrates já está ultrapassado. É melhor Sartre, pois é mais recente.

Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância)
Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade. Só porque não se sabe se algo é verdadeiro, não quer dizer que seja falso, e vice-versa.

Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus existe, logo ele não existe.

Ou o contrário.

Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus não existe, logo ele existe.

Apelo ao preconceito
Associar valores morais, políticos, sociais ou culturais a uma pessoa para convencer o adversário ou desmerecer suas opiniões.

Ex.: Uma pessoa religiosa como você não é capaz de argumentar racionalmente comigo.

A pessoa é estigmatizada por ser religiosa, considerada inferior ao oponente.

Argumentum ad superbiam (apelo à vaidade)
Provocar a vaidade do oponente para vencê-lo.

Ex.: Não acredito que uma pessoa culta como você acredita nessa teoria.

O oponente, por ser muito culto, pode se sentir envergonhado de defender essa teoria "absurda". É o contrário do apelo ao preconceito.

Argumentum ad populum (apelo à popularidade)
Também chamado apelo ao povo. É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas. Por vezes é chamada de apelo à emoção, pois os apelos emocionais tentam atingir toda a população.

Ex.: Inúmeras pessoas acreditam em Deus, portanto Deus existe.

Argumentum ad ridiculum (apelo ao ridículo)
Ridicularizar um argumento como forma de derrubá-lo.

Ex.: Se a teoria da evolução fosse verdadeira, significaria que o seu tataravô seria um gorila.

Espera-se que o oponente desista da sua convicção porque ela parece ridícula.

Erros categoriais e de regras gerais
Composição
É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.

Ex.: Todas as peças deste caminhão são leves; logo, o caminhão é leve.

Perceba que o termo "leve" aplicado ao exemplo tem sentido vago, diferentemente de na frase "todas as peças têm 1 kg; logo, o caminhão tem 1 kg", onde o valor sugerido é inequivocamente especificado, tornando óbvia a invalidade do argumento.

Divisão
É o oposto da falácia de composição. Supõe que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.

Ex.: Você deve ser rico, pois estuda num colégio de ricos.

Acidente
Trata-se de querer aplicar uma regra geral a todos os casos, ignorando as exceções.

Ex.: Devemos usar um protetor solar por causa da radiação UV, então devemos usá-lo hoje à noite, na praia.

Inversão do acidente
Trata-se de querer usar uma exceção como se fosse uma regra geral.

Ex.: Se deixarmos os doentes terminais usarem maconha, deveremos deixar todas as pessoas a usarem.

É chamada de generalização precipitada e se assemelha à amostra limitada.

Falácias causais
Cum hoc ergo propter hoc (com isso, logo, por causa disso)
Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão relacionados.

Ex: Ao apontar para um gráfico complicado, Rogério mostra que as temperaturas vêm aumentando nos últimos séculos, enquanto o número de piratas vem diminuindo; logo, os piratas causam resfriamento global e, portanto, o aquecimento global é uma farsa.

Post hoc ergo propter hoc (depois disso, logo, por causa disso)
Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o outro, eles têm uma relação de causa e efeito. Porém, correlação não implica causalidade.

Ex.: O Sol nasce porque o galo canta.

Inversão de causa e efeito
Considerar um efeito como uma causa.

Ex.: O investimento na educação sexual causou a propagação da SIDA (AIDS).

Na verdade, foi exatamente o contrário. A epidemia de SIDA (AIDS) levou ao incremento da educação sexual como forma de prevenção.

Terceira causa
Ignorar a existência de uma terceira causa, não levada em conta nas premissas.

Ex.: Estamos vivendo uma fase de elevado desemprego, que é provocado por um baixo consumo.

Há uma causa tanto para o desemprego como para o baixo consumo.

Ex.: A Alemanha está em crise, que é provocada pelos banqueiros judeus.

Existem outros motivos para a crise (ter perdido a Primeira Guerra pode ser uma terceira causa).

Causa diminuta
Apontar uma causa pouco importante.

Ex.: Fumar causa a poluição do ar em Edmonton.

A causa maior é a poluição industrial e dos automóveis.

Causa complexa
Supervalorizar uma causa quando há várias ou um sistema de causas.

Ex.: O menino não teria sido atingido pela bola se não houvesse acabado o recreio.

Mas também não teria sido atingido se o colega não tivesse chutado a bola para cima, quando o recreio acabou.

Houve muitas outras causas.

Non-sequitur
Non sequitur (não se segue que)
Tipo de falácia no qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma violação da coerência textual.

Ex.: Que nome complicado tem este futebolista! Deve jogar muita bola.

A conclusão de que ele joga muito bem nada tem a ver com a premissa de seu nome complicado.

É o modelo básico de uma falácia porque as premissas não levam à conclusão e podem até levar ao sentido contrário.

Afirmação do consequente
Essa falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional da seguinte forma:

Se A, então B.
B
Então A.
Ex.: Se há carros, então há poluição. Há poluição. Logo, há carros.

Afirma-se o consequente e depois se afirma o antecedente da proposição condicional. O antecedente é o que vem depois de "se" (A) e o consequente é o que vem depois de "então" (B).

A poluição não é causada somente por carros.

Negação do antecedente
Essa falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional da seguinte forma:

Se A, então B.
Não A
Então não B.
Ex.: Se há carros, então há poluição. Não há carros. Logo, não há poluição.

Nega-se o antecedente e depois se nega o consequente.

A falta de carros não acarreta necessariamente a falta de poluição.

OBS: Os modos certos de argumentar são os contrários, afirmar o antecedente e depois afirmar o consequente ou negar o consequente e depois negar o antecedente.

Inconsistência
Construir um raciocínio com premissas contraditórias.

Ex.: João é maior do que José e José é maior do que Frederico, enquanto Frederico é maior do que João.

Qual é o maior?

Falácias da explicação
Invenção de fatos
Consiste em mentir, dar falsa resposta ou apresentar informações imprecisas.

Ex.: A causa da gripe é o consumo de arroz.

Distorção de fatos
Também chamada de omissão de dados. Mascarar os verdadeiros fatos.

Ex.: O segredo da minha força são os cabelos.

É omissão de informação.

Teoria irrefutável
Informar um argumento com uma hipótese que não pode ser testada.

Ex.: Ganhei na loteria porque Deus quis assim.

Uma proposição que não pode ser testada e refutada não possui valor. Para mais ver: Método científico.

Deus das lacunas
Responder a questões sem solução com explicações sobrenaturais e/ou que não podem ser comprovadas.

Ex.: Os passageiros do avião sobreviveram porque Deus interveio no acidente.

Deus supre a falta de explicações, as lacunas. É uma teoria irrefutável.

Explicação incompleta
Ex.: As pessoas tornam-se esquizofrênicas porque as diferentes partes dos seus cérebros funcionam separadas.

O fato de partes diferentes do cérebro funcionarem separadamente é só um dos aspectos da esquizofrenia, mas que por si só não qualifica a doença.

Explicação superficial
Usar classificações para tirar conclusões.

Ex.: A minha gata Elisa gosta de atum porque é uma gata.

O gato deve gostar de atum somente porque é um gato, é uma questão de categoria.

Petitio principii (petição de princípio)
Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.

Ex.: É fato que a Bíblia é verdadeira, portanto todos devem buscar nela a verdade.

Trata-se de usar uma premissa que é igual à conclusão e forma com esta um raciocínio circular. A Bíblia é verdadeira porque contém a verdade e contém a verdade porque é verdadeira.

De fato, a informação de veracidade da Bíblia foi usada na premissa e na conclusão, não se usou uma premissa que levasse a uma conclusão de veracidade.

Conclusão irrelevante
Obter uma conclusão que não decorre das premissas.

Ex.: A lei deve estipular um sistema de cotas nas eleições para que as mulheres possam ocupar mais cargos políticos. Os cargos são dominados por homens e não fazer algo para mudar essa situação é inaceitável. Necessitamos de uma sociedade mais igualitária.

As cotas não são a solução única e obrigatória do problema, o que se requer em um raciocínio dedutivo. A conclusão irrelevante ou sofismática é do tipo non sequitur, as premissas não justificam a conclusão.

Erros de definição
Definição muito ampla
Ex.: Uma maçã é um objeto vermelho e redondo.

Mas o planeta Marte também é vermelho e redondo.

Definição muito restrita
Ex.: Uma maçã é um objeto vermelho e redondo.

Mas há maçãs que não são vermelhas.

Definição circular
Definir um termo usando o próprio termo que está sendo definido.

Ex.: A Bíblia é a palavra de Deus porque foi inspirada por Deus.

A circularidade consiste em repetir a premissa na conclusão.

Definição contraditória
Definir algo com termos que se contradizem.

Ex.: Para serem livres, submetam-se a mim.

Definição obscura
Definir algo em termos imprecisos ou incompreensíveis.

Ex.: Vida é a borboleta sublime que bate suas asas dentro de nós.

Falácias da dispersão
Falsa dicotomia
Também conhecida como falácia do branco e preto ou do falso dilema. Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.

Ex.: Se o sapato não é preto, ele é branco. O sapato não é preto. Logo, ele é branco.

É uma falacia pois sapatos podem ser de outras cores além de preto e branco, e não se segue logicamente que se ele não é uma especifica, logo seria outra especifica(se não-preto, branco; se não-branco, preto).

Porém, obviamente a falacia se aplica apenas a quanto a dicotomia é de fato falsa, o que dependo da afirmação. Levando em conta também as existências dos válidos e tradicionais Princípio da bivalência e Lei do terceiro excluído, dos quais são verdadeiros principalmente em casos de existência factual, pois não há um meio termo entre existência e inexistência.

Reductio ad absurdum (redução ao absurdo)
Consiste em averiguar uma hipótese, chegando a um resultado absurdo, para depois tentar invalidar essa hipótese.

Essa técnica é utilizada muitas vezes sem ter o caráter falacioso, inclusive para provar teorias. Por exemplo, matemáticos gregos da Antiguidade provaram que a raiz quadrada de 2 é um número irracional, demonstrando que a hipótese contrária (a de ser um número racional, na forma p/q onde p e q são inteiros) leva a um absurdo. Só é falaciosa quando o raciocínio desenvolvido pela pessoa utiliza falsas premissas.

Ex.:

A: Você deveria respeitar a crença de C porque todas as crenças são de igual validade e não podem ser negadas.
B: Eu recuso que todas as crenças sejam de igual validade.
B: De acordo com sua declaração, essa minha crença é válida, como todas as outras crenças.
B: Contudo, sua afirmação também contradiz e invalida a minha, sendo exatamente o oposto dela.
Aparentemente B mostrou que a afirmação de A é contraditória, porém A possivelmente quis dizer apenas que todas as crenças são subjetivamente válidas, ou seja, B fez uso de uma premissa falsa, uma premissa que não foi lançada por A.

Bola de neve
Também chamada de derrapagem, ou declive escorregadio. Elaborar uma sucessão de premissas e conclusões que conduzem ao absurdo.

Ex.: Se legalizarmos o aborto de bebês anencéfalos, logo iremos legalizar o aborto em bebês com síndrome de Down e, no final, começam a aumentar o número de aborto, e com o aumento de abortos deixa de existir crianças, deixando de existir crianças deixa de existir humanos, deixando de existir humanos deixa de existir vida na terra.

Pergunta complexa
Insinuação por meio de pergunta.

Ex.: Por que você bate na sua esposa?

São duas peguntas numa só:

Você bate na sua esposa?
Por que você faz isso?
Insinua-se que o homem bate na sua esposa.

Reductio ad Hitlerum (redução ao hitlerismo)
Invalidar um argumento pela comparação com Hitler ou com o nazismo. Sua validade, porém, é questionada por alguns historiadores, pois a comparação com o nazismo é uma forma de entender as origens do holocausto e evitar novos casos de extremismo.[16][17]

Ex.:

A: Você bebe água?

B: Sim.

A: Sabe quem também bebia água? Hitler! Ou seja, você é um nazista!

Argumentum ad nauseam (repetição nauseante)
É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que, quanto mais se diz algo, mais correto isso está.

Ex.: Se Joãozinho diz tanto que sua ex-namorada é uma mentirosa, então ela é.

Espera-se convencer o oponente com a saturação da sua mente pelo argumento.

Argumentum verbosium (prova por verbosidade)
Tentativa de esmagar os envolvidos pelo discurso prolixo, apresentando um enorme volume de material. Superficialmente, o argumento parece plausível e bem pesquisado, mas é tão trabalhoso desembaraçar e verificar cada fato comprobatório que pode acabar por ser aceito sem ser contestado.

É mais uma tentativa de saturar a mente do oponente.

Argumentum ad temperantiam (meio-termo)
Recorrer ao meio-termo sem razão.

Ex.: Não temos relógio, mas alguns dizem que são dez horas e outros dizem que são seis horas, então é mais acertado supor que são oito horas.

O meio-termo pode ou não ser falacioso, depende do contexto. Além disso, a exclusão do meio-termo pode também ser uma falácia.

Inversão do ônus da prova
O argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o argumento contrário, eximindo-se de provar a base do seu argumento original.

O ônus da prova inicial cabe sempre a quem faz a afirmação primária positiva.

Ex.: Dragões existem porque ninguém conseguiu provar que eles não existem.

No caso acima, o ônus da prova recairá sobre quem fez a afirmação de que dragões existem.

Ex.: Extraterrestres não existem porque ninguém conseguiu provar que eles existem.

Ausência de prova não significa prova de ausência, não sendo necessário que alguém prove a existência de algo para demonstrar a invalidade dos argumentos que defendem a inexistência.

Falácia genética
Consiste em aprovar ou desaprovar algo baseando-se unicamente em sua origem.

Ex.: Você gosta de chocolate porque seu antepassado do século XVIII também gostava.

Aponta-se a causa remota como o fator de validade.

Dicto Simpliciter (generalização inadequada)
Ocorre quando o tamanho da amostra é pequeno demais para sustentar uma generalização. Também referido como compreensão errônea da natureza da estatística, ou estatística de números pequenos.

Ex.: Minha namorada me traiu. Logo, as mulheres tendem à traição.

Argumentum ad Personam
Argumentum ad personam (ataque pessoal)
Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.

Ex.: Se foi um burguês quem disse isso, certamente é engodo.

O argumento está supostamente errado porque foi dito por um burguês.

Argumentum ad crumenam (apelo ao rico)
Essa falácia consiste em pregar que a riqueza ou o sucesso material torna as pessoas corretas.

Ex.: O barão é um homem bem sucedido na vida. Se ele diz que isto é bom, há de ser.

Argumentum ad pauper (apelo ao pobre)
Oposto ao ad crumenam. Essa é a falácia de assumir que, apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuoso e verdadeiro.

Ex.: Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito.

Argumentum ad verecundiam (apelo à autoridade)
Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.

Ex.: Se Aristóteles disse que o Sol gira ao redor da Terra em uma das esferas celestes, então é certamente verdade.

É como se um especialista pudesse acertar em tudo o que diz, mesmo sendo algo fora da sua área de especialidade. Essa falácia consiste em usar as opiniões de especialistas em áreas nas quais eles são leigos, como um físico se pronunciando sobre antropologia. A opinião dele só vale dentro da física.

No caso acima, Aristóteles não tinha meios de testar essa teoria astronômica, no tempo dele não havia recursos para isso. Entretanto, as teses dele em metafísica certamente podem ser consideradas porque não dependem de instrumentos e experimentação, somente do raciocínio típico de um filósofo.

Apelo à autoridade anônima
Trata-se de fazer afirmações recorrendo a supostas autoridades, mas sem citar as fontes.[18]

Ex.: Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela.

Que peritos?

Argumentum ad lapidem (argumento da Pedra)
Caracterizar uma afirmação como absurda, mas sem provas.

Ex.: João, ministro da educação, é acusado de corrupção e defende-se dizendo: "Esta acusação é um disparate".

Baseado em quê? Onde estão as evidências em contrário?

Estilo sem substância
Validar um argumento por sua beleza estética ou pela elegância do argumentador.

Ex.: Trudeau sabe dirigir as massas com muita habilidade. Ele deve ter razão.

Expulsão do grupo (falácia do escocês)
Fazer uma afirmação sobre uma característica de um grupo e, quando confrontado com um exemplo contrário, afirmar que esse exemplo não pertence realmente ao grupo.

Ex.:

Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau.
Ora, eu tenho um amigo escocês que faz isso.
Ah, sim, mas nenhum escocês "de verdade" coloca.
A falácia não ocorre se há uma justificativa para o argumento.

Espantalho
Consiste em criar ideias reprováveis ou fracas, atribuindo-as à posição oposta.

Ex.:

Deveríamos abolir todas as armas do mundo porque elas causam guerras. Só assim haveria paz verdadeira.
Meu adversário, por ser de um partido de esquerda, é favorável ao comunismo radical e quer retirar todas as suas posses, além de ocupar as suas casas com pessoas que você não conhece.
O outro é convertido num monstro, num espantalho, uma figura fácil de odiar e na qual todos querem bater visto que sua maldade foi "comprovada". É dessa forma que se faz uma pessoa odiar alguém ou alguma coisa, basta associá-los a outra pessoa ou coisa que todos odeiam. Leva-se a pessoa a odiar o outro por associação.

É uma demonização do oponente.

Inversão dos fatos
O argumentador rebate o ataque de seu adversário usando o mesmo argumento.

Ex.:

A: B é um comunista!
B: Na verdade A que é um comunista!
Egocentrismo ideológico
Realizar um argumento de forma parcial e tendenciosa.

Ex.:

O liberalismo é o ideal, pois Smith disse que...
O marxismo é o ideal, pois Marx disse que...
A pessoa só consegue pensar de seu ponto de vista.

Bulverismo
Argumentar partindo do pressuposto de que o oponente já está comprovadamente errado.

Ex.:

Você está dizendo que a Bíblia é correta? Nem vou discutir com você, parei. Sabemos que a ciência comprovadamente explica tudo corretamente.
Se você não acredita que a Bíblia é infalível, já perdeu o argumento, pois é óbvio que ela é.
É um egocentrismo ideológico, não se consegue considerar os pontos de vista do outro.

Falácia da falsa proclamação de vitória
Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bons argumentos.

É uma bravata contra o oponente para intimidá-lo.

Falácia do Hater ou da inveja

Consiste em alegar que o interlocutor é um hater e desse modo busca-se invalidar seus argumentos ou lhes infligir uma conotação negativa, mesmo que tais argumentos estejam perfeitamente em ordem e devidamente evidenciados. O mesmo ocorre quando para invalidar um argumento adversário, ataca-lhe diretamente o seu interlocutor inferindo que este sofre de "inveja" e sendo assim, os argumentos deste devam ser considerados inconsistentes.

Argumentum ad contradictorium (Argumento do Contraditório)
Você sugere ao seu oponente a beber de outras fontes mas não diz que fontes são essas

Ex.:

Pessoa 1: O salário do Juiz vale mais que todos do presidente.
Pessoa 2: O tal jornal diz que isso não é verídico.
Pessoa 1: Sugiro que verifique em outras fontes "não manipuladoras".
Falácias indutivas
Generalização precipitada
Uma pequena amostra, enumeração insuficiente ou imperfeita, conduzem a uma conclusão tendenciosa.

Franco-atirador texano
A hipótese é confirmada somente pelos argumentos do interlocutor que se mostraram corretos, sendo os outros descartados pelo próprio.

Amostra limitada
A amostra não representa toda a população, a parte é tomada como sendo o todo. É uma generalização precipitada.

Ex: Na região Sul do Brasil, faz muito frio. Logo, em todo o Brasil faz frio.

Falsa analogia
De uma semelhança parcial conclui-se uma semelhança total; em outras situações, duas coisas dissimiles ou sem relação são comparadas.

Exs.: Marte, tal como a Terra, é um planeta; ora, esta é habitada; portanto Marte também o é. Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que cumpram suas funções.[13]

Outras falácias
Círculo vicioso
É a tentativa de provar uma conclusão com base em uma retroalimentação, o efeito reforçando a causa. Em outros termos, é uma dupla petição de princípio, que consiste em demonstrar, uma por outra, duas proposições que carecem igualmente de prova.

Ex.:

A inflação diminui o poder dos salários, temos que aumentar os salários, mas, fazendo-o, teremos que aumentar os preços para pagá-los, o que aumentará a inflação.
A polícia me passou uma multa porque não gosta de mim. E a prova de que eles não gostam de mim é terem me passado uma multa.
A ordem do universo é um efeito da sabedoria divina, e esta somente pode ser demonstrada pela ordem do universo.
Uma coisa leva à outra.

Complexo do pombo enxadrista
Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bons argumentos.

É uma bravata contra o oponente para intimidá-lo. É parecida com a falsa proclamação de vitória.

Esnobismo cronológico
Ocorre quando o pensamento, a arte ou a ciência de um período histórico anterior é tido como inevitavelmente inferior ou superior, quando comparado com os equivalentes do tempo presente.

Ex.: A é um argumento antigo, da época em que as pessoas também acreditavam em B. Se B é claramente falso, A também é falso.

É um apelo à tradição ou à antiguidade.

Evidência anedótica
Refere-se a uma evidência informal na forma de anedota (conto, episódio, derivado do grego anékdota, significando "coisas não publicadas") ou de "ouvir falar". A evidência anedótica é chamada de testemunho.

Ex.: Há provas abundantes de que Deus existe e de que continua produzindo milagres hoje. Na semana passada, li sobre uma menina que estava morrendo de câncer. Sua família inteira foi à igreja e rezou e ela se curou.

É um mero boato.

Falácia da pressuposição
Consiste na inclusão de uma pressuposição que não foi previamente esclarecida como verdadeira, ou seja, na falta de uma premissa.

Ex.: Você já parou de bater na sua esposa?

É uma pergunta maliciosa porque se divide em duas. A primeira seria "Você bate na sua esposa?", é isso o que se pretende dizer aos ouvintes.

É semelhante à pergunta complexa.

Falácia da probabilidade condicionada
Ocorre quando se expõem estatísticas e probabilidades sem oferecer o contexto necessário para sua interpretação, confundem-se probabilidades condicionais, invertendo-as ou tratando-as como se fossem incondicionais.

Ex.: Os jurados foram expostos à chance de o marido vir a matar a mulher porque ele a espancava, quando o dado relevante, diante do fato consumado (a esposa já tinha sido assassinada), era "Qual a chance de a mulher ter sido morta pelo marido, dado que ele a espancava?". A chance de ser morta por um marido espancador é de 1 em 1 000, de qualquer forma é muito mais alta que o risco de uma mulher ser morta por um marido que não a espanca ou por um estranho qualquer na rua, mas era a pergunta errada.

Falácia de validação pessoal (efeito Forer)
Avaliar algo ou alguém com critérios genéricos, dando a entender que essa avaliação é individual.

É como reduzir alguém, simplesmente pelo fato de que o mesmo anda com pessoas de caráter duvidoso.

Falácia nomotética
Consiste na crença de que uma questão pode ser resolvida simplesmente dando-lhe um novo nome, quando, na realidade, a questão permanece sem solução.

Falácias tipo "A" baseado em "B" (conclusão sofismática)
Ocorrem dois fatos. São colocados como similares por serem derivados ou similares a um terceiro fato.

Ex.:

O islamismo é baseado na fé.
O cristianismo é baseado na fé.
Logo, o islamismo é similar ao cristianismo.
É uma falsa aplicação do princípio do silogismo. Pode-se visualizar como três conjuntos, o cristianismo e o islamismo são dois conjuntos dentro do conjunto fé, mas isso não significa que aqueles dois conjuntos são iguais, eles apenas compartilham o elemento fé.

Ignoratio elenchi (ignorância da questão, conclusão sofismática)
Consiste em utilizar argumentos que podem ser válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados. Tenta-se provar uma coisa diferente daquela de que se trata.

Ex.: Os astronautas do Projeto Apollo eram bem preparados, todos eram excelentes aviadores e tinham boa formação acadêmica e intelectual, além de apresentarem boas condições físicas. Logo, foi um processo natural os Estados Unidos ganharem a corrida espacial contra a União Soviética, pois o povo americano é superior ao povo russo.

O advogado tenta provar a inocência do cliente, afirmando que ele é um bom pai, um bom filho, etc..

Só a conclusão é discutível, as premissas são verdadeiras.

É uma falácia de conclusão irrelevante. Esse é o modelo de falácia porque as premissas não levam à conclusão exposta.

Plurium interrogationum
Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.

Ex.: O que faremos com esse criminoso? Matar ou prender?

É um falso dilema.

Red herring (arenque vermelho)
Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto discutido, para desviar a atenção e chegar a uma conclusão diferente.

Ex.: Será que o palhaço é o assassino? No ano passado, um palhaço matou uma criança.

O fato de um palhaço ter matado uma criança não significa nada, não interfere no caso em questão.

As premissas usadas devem ser relevantes para a conclusão.

(O termo "arenque vermelho" faz referência a um peixe que pode ser atravessado no caminho de um cão farejador, fazendo com que ele perca a sua pista.)

Argumentum ad lucrum (Apelo ao lucro)
Considerar uma conclusão verdadeira ou falsa conforme suas premissas financeiras.

Ex.:

Se o aquecimento global for verdade, então muitos cientistas vão ganhar dinheiro para pesquisas e muitas empresas vão lucrar milhões para produzirem energia de fontes que não emitem dióxido de carbono. Portanto, o aquecimento global não é verdade.
Se o aquecimento global for verdade, então países pobres ou em desenvolvimento vão ter prejuízo por não explorarem suas jazidas de petróleo e carvão. Portanto, o aquecimento global não é verdade.
A conclusão é válida ou inválida porque vai haver lucro ou prejuízo financeiro. É uma insinuação maliciosa de que as teorias são feitas para causar lucros ou prejuízos às pessoas.

É uma forma de ataque pessoal porque insinua que o oponente tem algo a ganhar com seu argumento. Esse ganho pessoal pode não ser financeiro, é comum insinuar que o oponente tem motivos pessoais para defender um argumento, mas todo argumento deve ser analisado conforme a adequação da conclusão às premissas.

Falso axioma
Consiste em fazer uma afirmação duvidosa parecer uma verdade incontestável.

Ex.: Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.

Exigência de perfeição
Pede-se mais do que o necessário para resolver um problema.

Ex.: A egiptóloga Fulana de Tal é uma principiante, obteve o doutorado há pouco tempo, tem limitada experiência: não pode julgar um descobrimento tão importante.

É um ataque pessoal.

Tu quoque (tu também)
Consiste em desacreditar a fala por um comportamento anterior ao invés do argumento em si.[19]

Ex.: Pessoa A afirma: "Não acredito que você está comendo doces... Doces provocam cáries!"

Pessoa B responde: "Você sempre comeu doces."

Ex2.: Pessoa A: O seu candidato X está sendo acusado de corrupção!

Pessoa B: Mas o seu candidato Y também foi acusado no passado. E ele ainda roubou muito mais!

A pessoa B foge da questão, tentando diminuir o ocorrido ao evocar uma situação semelhante que supostamente é/foi mais forte/grave. Um erro maior não serve como justificativa para um erro menor, o ideal seria que nenhum dos erros acontecesse em primeiro lugar.

Falácia da conversão
Ex.:

O mendigo pede.
Logo, quem pede é mendigo.
Não respeita as leis da oposição. Pode-se imaginar o conjunto mendigos dentro do conjunto pedintes, mas pode haver pessoas dentro do conjunto pedintes que não fazem parte do conjunto mendigos. Além disso, a negação de que todo mendigo pede é que algum mendigo não pede.

Falácia da oposição
Ex.:

É falso que todo homem é sábio.
Nenhum homem é sábio.
Não respeita as leis da oposição. A conclusão pretende ser a negação da premissa, portanto a sentença certa é "Algum homem não é sábio".

OBS: Algum é a negação (oposição, contrário) tanto de todo como de nenhum.

Teoria da Conspiração
Ex.:

Um grupo antigo e secreto controla todos os aspectos da vida na Terra.
Não há nenhuma prova da existência deste grupo.
Isso acontece porque um grupo antigo e secreto controla todos os aspectos da vida na Terra.
Consiste em atribuir verdade aos fatos, exclusiva ou principalmente por conta de seu caráter supostamente secreto ou sigiloso. A impossibilidade de verificar os fatos torna a falácia mais persuasiva, convencendo o interlocutor da capacidade dos conspiradores de esconder a própria existência.

Falácia do holofote
Presume que o aumento da atenção da mídia ou da imprensa sobre determinado assunto signifique um aumento da ocorrência ou frequência de ocorrência do evento tratado. O raciocínio é falho, pois a atenção da mídia pode ser direcionada por diversos outros motivos, além da frequência de ocorrências do evento tratado.

Ex.:

Os casos de pedofilia vêm aumentando, a mídia vem reportando muito mais casos ultimamente.
Falácia do apostador
Consiste em acreditar que se, durante um sorteio aleatório, um resultado pouco provável é obtido muitas vezes, os sorteios seguintes irão talvez compensar este desvio e dar várias vezes o resultado oposto. Por exemplo, se ao fazer "cara ou coroa" um jogador obtiver um grande número de "caras", acreditará ter mais probabilidades de obter "coroas" nos sorteios seguintes.









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